ONU atualiza para 4 mil o número de civis mortos na Ucrânia

Segundo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, há subnotificação e número real seria maior

A guerra na Ucrânia, que completou três meses na terça-feira (24), já matou milhares de civis. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), até a quinta (26), foram registradas oficialmente 8.766 vítimas civis em todo o país: 4.031 mortos e 4.735 feridos. Os números foram atualizados nesta sexta (27) pelo ACNUDH (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos).

A atualização mostra que, do total de mortos, 1.529 são homens, 995 mulheres, 92 meninas e 100 meninos. Há ainda 69 crianças e 1.246 adultos que não tiveram o sexo identificado.

Entre os feridos, 957 são homens, 629 mulheres, 110 meninas e 132 meninos. Além de 164 crianças e de 2.743 adultos cujo sexo não foi identificado.

Prédio parcialmente destruído por bombardeios no distrito de Obolon, Kiev (Foto: Oleksandr Ratushniak/UNDP)

Nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, são 4.947 vítimas, sendo 2.274 mortos e 2.673 feridos. Em território controlado pelo governo foram contabilizadas 4.277 vítimas, sendo 2.145 mortos e 2.132 feridos. Já em território controlado por grupos armados afiliados à Rússia, o número chega a 670 vítimas: 129 mortos e 541 feridos.

Em outras regiões da Ucrânia (a cidade de Kiev e as regiões de Cherkasy, Chernihiv, Kharkiv, Kherson, Kyiv, Mykolaiv, Odesa, Sumy, Zaporizhzhia, Dnipropetrovsk, Poltava, Rivne, Vinnytsia e Zhytomyr), que estavam sob controle do governo quando as pessoas foram vitimadas, a estatística é de 1.757 mortos e 2.062 feridos.

A maioria das vítimas civis registradas foi alvo de armas explosivas com uma ampla área de impacto, incluindo bombardeios de artilharia pesada e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, mísseis e ataques aéreos, de acordo com o levantamento da equipe da ONU em atividade no país.

O ACNUDH acredita que o número oficial de vítimas, que até o dia 10 de maio era de 3.381, é uma subnotificação que esconde milhares de baixas.

Isso porque o recebimento de informações de alguns locais onde ocorreram intensas hostilidades foi adiado e muitos relatórios ainda aguardam confirmação. Isso diz respeito, por exemplo, a Mariupol (região de Donetsk), Izium (região de Kharkiv) e Popasna (região de Luhansk), onde há alegações de inúmeras vítimas civis.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, a suas tropas e ao presidente Putin aumentou consideravelmente depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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