Separatistas pró-Rússia ameaçam levar soldados ucranianos a ‘tribunal internacional’

2,5 mil prisioneiros de guerra estão sob custódia da autoproclamada República Popular de Donetsk, que promete julgá-los

Cerca de 2,5 mil soldados ucranianos feitos prisioneiros após se renderem enquanto defendiam a siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, enfrentarão um “tribunal internacional”, disse nesta segunda-feira (23) o líder da autoproclamada República Popular de Donetsk (RPD). A região é reduto de separatistas pró-Moscou no Leste da Ucrânia. As informações são do jornal The Moscow Times.

Denis Pushilin, líder pró-Kremlin da RPD, disse à agência de notícias russa Interfax que todos os aprisionados de guerra, que resistiram por três meses no interior da usina contra as forças invasoras do país vizinho, estão atualmente sob custódia do território separatista.

“Estamos planejando organizar um tribunal internacional na república”, disse Pushilin, acrescentando que uma carta para o tribunal já estava “em andamento”. Segundo ele, 78 dos detidos são mulheres e há diversos cidadãos estrangeiros entre os combatentes.

O combatente do batalhão Azov Dmytro Kozatskyy registrou os meses passados dentro da usina de Azovstal (Foto: Dmytro Kozatskyy/Reprodução Telegram)

A rendição em massa no complexo industrial de Azovstal na semana passada decretou o fim de um violento combate travado desde fevereiro pelo controle de Mariupol, cidade portuária ao sul cercada por tropas russas que exigem a rendição da Ucrânia. A resistência dos soldados ao exército de Vladimir Putin no entorno da imensa siderúrgica tornou-se um dos símbolos do conflito.

Os últimos soldados a manterem seus postos na usina formavam um contingente composto por ucranianos e combatentes do Batalhão Azov, uma milícia ultranacionalista incorporada à Guarda Nacional da Ucrânia.

Kiev declarou que irá negociar uma troca de prisioneiros para trazer os defensores do Azovstal de volta para casa. Do outro lado, Moscou não falou com clareza sobre qual deve ser o destino dos combatentes detidos.

De acordo com Leonid Slutsky, que integra uma equipe de negociação do Kremlin que trata de assuntos com a Ucrânia em Donetsk, disse no sábado (21) que Moscou poderá aceitar trocar presos ucranianos por um grande aliado de Putin, o oligarca ucraniano Viktor Medvedchuk, ex-líder de um partido de oposição pró-Rússia.

“Vamos estudar a possibilidade”, afirmou Leonid Slutsky.

Medvedchuk, que estava foragido desde que escapou da prisão domiciliar, foi detido em abril durante uma operação especial realizada pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, da sigla em inglês). Na época de sua detenção, analistas apostaram que o magnata poderia se tornar uma peça importante na mesa de negociações entre as nações em conflito para dar um fim à guerra.

No entanto, o Kremlin desconversou. “Já dissemos que Medvedchuk é um cidadão da Ucrânia, não tem nada a ver com a Rússia e não é um militar”, disse em coletiva de imprensa o porta-voz do presidente Putin, Dmitry Peskov.

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