Parlamento da Letônia declara a Rússia ‘Estado patrocinador do terror’

Parlamentares também pediram aos países da UE que suspendam o turismo e limitem a emissão de vistos para cidadãos russos

Os crimes de guerra na Ucrânia, o alinhamento do Kremlin com a Síria e a derrubada de um avião carregado de civis em Donetsk. Essas foram algumas das justificativas do parlamento da Letônia para declarar a Rússia um Estado patrocinador do terror, o que ocorreu na quinta-feira (11). As informações são da rede Voice of America (VOA).

A resolução foi aprovada observando que Moscou “apoia e financia regimes e organizações terroristas há anos”, coordenando ataques militares direcionados contra civis e locais públicos.

Além disso, o Saeima, a câmara legislativa local, incentivou outros países a aprovarem iniciativas semelhantes, bem como pediu à União Europeia (UE) que barre a emissão de vistos de turistas para cidadãos russos e belarussos. A Letônia faz fronteira com Rússia e Belarus.

(Foto: WikiCommons)

O Saeima sustentou sua declaração apontando crimes de guerra cometidos pelas tropas de Vladimir Putin na Ucrânia, usando de “táticas implacáveis, imorais e ilegais”, com “armas e munições imprecisas e internacionalmente proibidas” contra civis. 

Com base em relatórios de grupos de direitos humanos e observadores internacionais, os parlamentares ainda citaram agressões praticadas por forças russas contra civis ucranianos, “incluindo tortura, estupro, assassinatos e detenções em massa de civis”.

Segundo o portal Swissinfo, os legisladores também lembraram do ataque deliberado a um teatro em Mariupol que matou um número ainda incerto de pessoas, um bombardeio contra uma área residencial perto de Odessa, que matou pelo menos 21, e um ataque a um shopping center em Kremenchuk, que matou 19. O uso da substância neurotóxica novichok, como no caso do envenenamento do agente duplo Sergei Skripal e sua filha, na Inglaterra, em 2018, foi igualmente citado.

Para os deputados letões, os russos estão em uma campanha para desmoralizar a população do país invadido usando “sofrimento e intimidação como ferramentas”, atos que sugerem um “comprometimento na busca de objetivos políticos” através do “terrorismo”.

“O Saeima reconhece a violência da Rússia contra civis, que estão sendo perseguidos para fins políticos, como terrorismo, e a Rússia, como um país que apoia o terrorismo, e pede a outros países de pensamento semelhante que expressem tal opinião”, disse o comunicado do parlamento.

Em maio, outro país báltico, a Lituânia, já havia aprovado por unanimidade em seu parlamento uma resolução declarando a Rússia um “Estado terrorista” e classificando as ações de Moscou na Ucrânia como genocídio

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, a suas tropas e ao presidente Putin aumentou consideravelmente depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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