Zelensky chama Rússia de ‘terrorista’ ao denunciar ataque aéreo contra shopping center

"Apenas terroristas totalmente insanos, que não deveriam ter lugar na terra, podem lançar mísseis contra objetos civis", disse o presidente ucraniano

“Cidade pacífica, shopping comum, mulheres dentro, crianças, civis comuns”. Assim o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky descreveu o cenário do mais recente bombardeio russo contra instalações civis na Ucrânia, segundo a rede CNN. O alvo foi um shopping center da cidade de Kremenchuk, leste do país, que Kiev diz ter sido atingido por um míssil da Rússia na segunda-feira (27).

“Apenas terroristas totalmente insanos, que não deveriam ter lugar na terra, podem lançar mísseis contra objetos civis. E estes não são ataques de mísseis fora do alvo em jardins de infância, escolas, shopping centers, prédios de apartamentos. São ataques calculados dos invasores. A Rússia deve ser reconhecida como um Estado patrocinador do terrorismo. O mundo pode e, portanto, deve parar o terror russo”, afirmou o líder ucraniano em suas redes sociais.

De acordo com o Zelensky, mais de mil pessoas estavam dentro do shopping quando ele foi atingido. Até o início da manhã desta terça-feira (28) no Brasil, o número confirmado de vítimas fatais era de 18, de acordo com a agência Reuters, com mais de 30 desaparecidos. Há ainda cerca de 40 feridos.

“A operação de resgate continua, mas devemos estar cientes de que as perdas podem ser significativas”, disse o presidente em um vídeo também publicado em seus perfis. “Peço a todos: sempre que você ouvir a sirene do alarme aéreo, por favor, vá para o abrigo. Necessariamente. Não ignore isso. A Rússia não vai parar por nada”.

O ataque também levou a manifestação de repúdio da ONU (Organização das Nações Unidas), através do porta-voz Stéphane Dujarric. “Qualquer que seja o número de qualquer ataque que atinja um shopping center, é totalmente deplorável”, disse ele. “Qualquer tipo de infraestrutura civil, que inclui obviamente shopping centers, e civis nunca devem ser alvo”.

Ainda de acordo com Dujarric, houve “relatos perturbadores de uma nova onda de ataques aéreos e bombardeios no fim de semana e novamente hoje (segunda-feira), com civis mortos ou feridos. Casas, instalações de saúde e outras infraestruturas civis teriam sido danificadas”.

Shopping atingido por míssil russo na Ucrânia (Foto: reprodução de vídeo)
Escalada de tensão

O ataque ao shopping center levou a uma inflamação na retórica dos dois lados do conflito. Zelenskly aproveitou que a cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) acontecerá no final desta semana em Madrid, na Espanha, e cobrou o fornecimento de um “poderoso sistema de defesa antimísseis para a Ucrânia evitar ataques terroristas russos”, segundo a rede Voice of America (VOA).

Ele fez o pedido em uma conversa por telefone com o secretário-geral da aliança Jens Stoltenberg, que se manifestou através do Twitter. “Falei com o presidente Zelensky sobre a guerra de agressão da Rússia. Em nossa cúpula da Otan, intensificaremos o apoio ao nosso parceiro próximo, agora e a longo prazo. Os aliados da Otan estão com você”, disse ele.

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev também aproveitou o encontro da Otan para ameaçar, citando a Crimeia, região ucraniana anexada à força em 2014. “Para nós, a Crimeia é parte da Rússia. E isso significa para sempre. Qualquer tentativa de invadir a Crimeia é uma declaração de guerra contra nosso país”, disse ele, segundo a Reuters. “Se isso for feito por um Estado-Membro da Otan, significa conflito com toda a aliança do Atlântico Norte. Uma Terceira Guerra Mundial. Uma catástrofe completa”.

Quanto ao ataque ao shopping, Moscou manteve o discurso de inocência habitual. “Em Kremenchuk, as forças russas atacaram um depósito de armas que armazenava armas recebidas dos Estados Unidos e da Europa, armas aéreas de alta precisão”, disse o Ministério da Defesa da Rússia em comunicado diário sobre a guerra. “A detonação de munição armazenada para armas ocidentais causou um incêndio em um shopping center inoperante localizado próximo ao depósito”.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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