Pedido de kebab por aplicativo derrubou terrorista do Estado Islâmico na Europa

Um delivery do prato típico também conhecido como “churrasco grego”, mostrou o paradeiro do terrorista mais procurado do Reino Unido, o rapper Abdel Bary

Um delivery de kebab, conhecido no Brasil como “churrasco grego”, mostrou o paradeiro do terrorista mais procurado do Reino Unido e ajudou a polícia a prendê-lo. Foi o que revelaram os autos da Operação Altepa, mantidos sob sigilo judicial na Espanha por mais de um ano e, agora, detalhados pelo jornal El País, que teve acesso aos documentos.

Abdel Bary, um rapper egípcio-britânico que trocou as rimas pela metralhadora ao se alistar no Estado Islâmico (EI) na Síria, onde se tornou um violento insurgente, foi preso em abril de 2020 na cidade espanhola de Almería. A detenção ocorreu no início do lockdown da pandemia de Covid-19.

Bary estava refugiado na companhia de outros dois militantes da organização extremista quando cometeu um deslize que custou sua liberdade: encomendou kebab por aplicativo para comer no esconderijo. As informações registradas pelo aplicativo apontaram seu paradeiro e resultaram na prisão do jihadista associado a inúmeras execuções.

Do rap ao jihad: Abdel Bary trocou rimas por execuções (Foto: Reprodução/YouTube)

Imigrantes ilegais

Segundo apurou o jornal local La Voz de Almería, os terroristas chegaram à província a bordo de uma balsa improvisada pelo Cabo da Gata, no sul da Península Ibérica. Eles aportaram na Espanha após atravessarem o Mediterrâneo vindos da Argélia.

Os extremistas conseguiram driblar a fiscalização em um dia em que cinco barcos ancoraram e nem todos os imigrantes foram interceptados pelo Guarda Civil. Em ação conjunta com o Centro Nacional de Inteligência (CNI), os agentes trabalhavam com informações que davam conta da chegada de terroristas vindos da Síria pela nova rota. Mas não sabiam o local exato onde atracariam.

Como eles conseguiram ingressar na Espanha, a inteligência local passou a focar no monitoramento das redes sociais e rastreamento dos celulares dos suspeitos. Um colaborador do EI, Abderrezak Siddiki, que chegou ao país junto com Bary, foi identificado como usuário no aplicativo UberEats, que forneceu o endereço quando um pedido de comida foi feito. Os extremistas foram pegos em um apartamento alugado via Airbnb.

Desde então, Abdel Bary está preso na penitenciária de Soto del Real, na região de Madri. Ele nega a acusação de integrar a organização terrorista e diz que foi a Almería para “trabalhar em estufas ou colhendo frutas”. Quanto ao período em que passou na Síria, alega que prestava apoio “humanitário” aos muçulmanos.

As forças de segurança espanholas acreditam que o trio planejava um ataque no continente europeu. “O fato de ele pretender chegar à margem de qualquer meio de viagem regular leva a crer que seu objetivo é o de cometer qualquer tipo de ação relacionada com sua militância terrorista ou, no mínimo, solicitar apoio local para viajar por território europeu”. Com isso, os agentes fortaleceram o patrulhamento.

Do rap à jihad

De origem egípcia, o ex-rapper conhecido como L Jinny tem o fundamentalismo islâmico na família. Bary é filho de Adel Abdel Bary, proeminente combatente da Al-Qaeda extraditado para os EUA em 2002 após fazer parte de atentados contra as embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia.

Bary foi para a Síria em 2013 para lutar pelo Estado Islâmico. “No começo de 2014, foi fotografado segurando uma cabeça decapitada de um infiel, aparentemente durante sua estadia em Raqqa [considerada a capital do Estado Islâmico], e prometendo guerra sem trégua ao Ocidente”, diz outro inquérito policial.

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