Petição pede ao Kremlin a demissão do líder checheno Ramzan Kadyrov

Conhecido pelo autoritarismo, líder da ex-república soviética tem ameaçado ativistas e jornalistas. Pedido já tem mais de 130 mil assinaturas

Após ser lançada no domingo (6), uma petição que reivindica ao Kremlin a exoneração do líder da Chechênia Ramzan Kadyrov ganhou mais de 130 mil assinaturas em 48 horas. O presidente escolhido pelo governo russo para estabilizar o território protagonizou inúmeras controvérsias desde que assumiu o cargo em 2007, segundo informou o jornal The Moscow Times.

Conhecido pelo autoritarismo de seu regime, Kadyrov esteve envolvido nas últimas semanas em ameaças dirigidas contra ativistas de direitos humanos e jornalistas. À frente do governo há mais de uma década, ele é acusado frequentemente por grupos russos e internacionais de supervisionar graves abusos contra minorias – entre eles um expurgo gay –, desde tortura até execuções extrajudiciais.

O autor da petição é Ilya Yashin, ativista da oposição russa e ex-deputado do distrito de Krasnoselsky, em Moscou. Na opinião dele, Kadyrov “transformou a região em um Estado separado”, “não é adequado para sua posição” e “não pode ser um funcionário público”. Com base em suas acusações, o oposicionista pede ao presidente Vladimir Putin que assine um decreto para destituí-lo do poder.

Presidente da Chechênia, Ramzan Kadyrov (Foto: Kremlin/Reprodução)

Na opinião de analistas, é improvável que o apelo tenha impacto, embora a atitude tenha sido considerada “uma dinâmica muito impressionante”.

“Não há fundamentação legal que embase a renúncia ou demissão de Kadyrov”, disse Alexei Malashenko, pesquisador-chefe do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia Russa de Ciências, ao site de notícias local Kavkaz Uzel.

O porta-voz de Kremlin, Dmitry Peskov, disse a jornalistas na segunda-feira (7) que o governo desconsidera a petição e que tal “votação impessoal” poderia ser influenciada por bots (software concebido para simular ações humanas repetidas vezes) na internet.

Imprensa e ativistas perseguidos

O regime linha-dura de Kadyrov sobre a região, arrasada por dois conflitos separatistas nos anos 1990 e início dos anos 2000, voltou a dar o que falar em janeiro, quando agentes chechenos prenderam a mãe do ativista antitortura checheno Abubakar Yangulbaev, na Rússia, e a devolveu à força a Grósnia.

Adam Delimkhanov, um parlamentar russo e aliado de Kadyrov, ameaçou “cortar as cabeças” dos membros da família de Yangulbaev, intimidação apoiada por altos funcionários do governo checheno, segurança e policiais.

Kadyrov também já instou países a devolverem membros da família que fugiram da Rússia, dizendo que “protegê-los significa apoiar terroristas”. O líder ainda deu o seguinte ultimato aos Yangulbaev: “Prisão ou enterro”.

Jornalistas que trabalham para veículos independentes também sofrem com a mão-de-ferro de Kadyrov. Ele classificou profissionais dos jornais Novaya Gazeta e Dozhd como “terroristas”. Ele ainda se gabou de ser um “destruidor de terroristas e seus cúmplices”.

Diante das ameaças, na sexta-feira (4), a repórter do Novaya Gazeta, Yelena Milashina, fugiu da Rússia temendo as ameaças de Kadyrov.

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