O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, desembarcou em Londres na noite desta segunda (20) para encontro com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, e com o chanceler Dominic Raab. Na pauta, cooperação bilateral e “assuntos relacionados à República Popular da China”.
A visita ocorre dias após a proibição da empresa chinesa de telecomunicações Huawei de participar da rede de 5G britânica. De acordo com a Secretaria de Estado dos EUA, a decisão seria “importante para proteger [os] interesses de segurança nacional” do aliado.
Os norte-americanos afirmam que a Huawei pode gerar problemas nas redes de 5G de países ocidentais. “[A empresa] cria sistemas vulneráveis à disrupção, manipulação e espionagem, e põe em risco sistemas governamentais, empresariais e pessoais confidenciais”.
“Vamos continuar a trabalhar com o Reino Unido na promoção de de um ecossistema de 5G seguro e vibrante, o que é crítico para a prosperidade e segurança transatlântica”, afirma o material da Secretaria de Estado.
Pompeo segue nesta quarta (22) para Copenhague, na Dinamarca, onde se reúne com a premiê Mette Frederiksen.
Londres versus Beijing
No Reino Unido, a visita é entendida como forma dos EUA de pressionarem o histórico aliado a uma relação mais contenciosa com a China.
A meta, de acordo com reportagem desta segunda (20) do “The Guardian“, é pressionar a base conservadora mais apegada ao conflito com os chineses – que é ampla, e inclui de centristas a defensores de primeira hora do Brexit.
No Parlamento, há uma frente de pelo menos 50 representantes que pedem o bloqueio permanente da Huawei em novas instalações de 5G no Reino Unido.
Também há manifestações para que empresas chinesas não possam aportar recursos em outras áreas consideradas estratégicas. Entre elas, a nuclear ou a de construção civil – neste caso, como investidora majoritária.
As relações sino-britânicas foram de uma “nova era de ouro“, nas palavras do ex-premiê David Cameron, a troca de acusações em menos de cinco anos. Em 2015, o governo, também conservador, incentivava aportes da mesma Huawei e exaltava o bom momento das trocas bilaterais.
Essa fase amigável foi lembrada pelo jornal oficialista “China Daily”, em editorial nesta segunda (20). Por via do jornal, Beijing indicou que irá “responder [ao bloqueio à Huawei] de forma ‘resoluta'”. O artigo opinativo também acusa os EUA de pressão sobre Londres.
Ingerência
A visita de Pompeo coincide com a publicação de um relatório, com acusações cotra outra potência, a Rússia, de grave interferência no Brexit. O documento foi divulgado nesta terça (21) pela Comissão Parlamentar de Inteligência e Segurança (ISC) do Reino Unido.
O material afirma que “a influência russa no Reino Unido é o novo normal.” De acordo com o relatório, o país tornou-se um alvo de campanhas intensas de desinformação russas.
A recomendação é a de que Londres “não seja complacente com um Estado hostil, que toma ações deliberadas com o objetivo de influenciar nossos processos democráticos”.
“Sucessivos governos receberam os oligarcas e seu dinheiro de braços abertos, provendo a eles meios de reciclar dinheiro ilícito por meio da ‘lavadora’ de Londres e conexões do mais alto nível com empresas e figuras políticas britânicas”, afirma o relatório.
Do outro lado do Atlântico, em Washington, também há suspeitas de interferência dos russos na eleição de 2016.