Nesta semana, a Rússia intensificou sua luta ideológica contra o Ocidente, concentrando-se em algo que o Kremlin e seus aliados consideram uma ameaça às bases do país: pessoas que escolhem não ter filhos. Para isso, o parlamento russo está trabalhando na criação de uma nova lei que multará pessoas em milhares de dólares por defenderem um estilo de vida diferente dos moldes das famílias tradicionais. As informações são da NBC News.
Os legisladores sugeriram a proibição da “propaganda da recusa consciente de ter filhos”, conforme divulgado por Vyacheslav Volodin, presidente da câmara baixa do parlamento e aliado do presidente Vladimir Putin, em uma postagem no Telegram na semana passada.
Volodin acrescentou que “medidas seriam uma ‘proibição da ideologia da não maternidade e da livre circulação de crianças'”, afirmou ele. A lei proposta proíbe a divulgação de material na internet, em filmes e em anúncios que promovam “a recusa consciente de ter filhos”, conforme afirmou o político.
Uma “família grande e amigável é a base de um estado forte”, acrescentou, repercutiu a France24.
A legislação também prevê multas de até 400 mil rublos (cerca de R$ 23,4 mil) para indivíduos que forem considerados culpados de compartilhar esse tipo de conteúdo, 800 mil rublos para entidades governamentais e até 5 milhões de rublos para empresas que o fizerem.
A medida anunciada nesta semana, de acordo com a reportagem, é apenas mais um passo na campanha do Kremlin para promover o que considera “valores tradicionais”. Essa ação busca remodelar a sociedade russa em torno da guerra de Putin e adotar uma postura de conflito existencial contra os Estados Unidos e seus aliados.
O Kremlin, a influente Igreja Ortodoxa Russa e importantes figuras conservadoras promovem frequentemente o que consideram “valores tradicionais”, tanto como uma defesa contra as ideias liberais ocidentais quanto como uma maneira de conter o declínio populacional da Rússia.
No primeiro semestre de 2024, a Rússia alcançou sua menor taxa de natalidade em 25 anos. Centenas de milhares de jovens foram convocados para o exército para lutar na Ucrânia ou deixaram o país para escapar do recrutamento.
A legislação proposta reflete a proibição imposta pela Suprema Corte Russa ao chamado movimento internacional LGBT no final de 2023, o que elevou o risco de prisões e processos para a já vulnerável comunidade gay e trans no país.