Putin aprova centros para treinamento militar conjunto entre Rússia e Belarus

Decisão do presidente russo aumenta as especulações de que o exército belarusso será inserido na guerra da Ucrânia

O presidente russo Vladimir Putin deu aval, nesta terça-feira (31), para que sejam estabelecidos centros de treinamento militar conjuntos para as forças armadas da Rússia e de Belarus. A medida faz crescer as especulações de que o exército belarusso será inserido na guerra da Ucrânia. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Putin assinou um decreto determinando que os Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores da Rússia atuem para formalizar a criação dos centros de treinamento. Porém, não está claro onde ficariam as instalações e quando elas entrariam em operação.

Ao mesmo tempo em que Moscou toma a iniciativa de aproximar ainda mais os dois exércitos, o Ministério da Defesa de Belarus anunciou que, também a partir desta terça (31), suas forças armadas realizarão um treinamento conjunto com as tropas russas.

Encontro entre Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

“Durante a semana, representantes dos departamentos militares dos dois Estados vão trabalhar as questões do planejamento conjunto do emprego de tropas com base na experiência de conflitos armados dos últimos anos”, disse a pasta através do aplicativo de mensagens Telegram.

De acordo com o comunicado, o objetivo do treinamento é “aumentar a compatibilidade dos órgãos militares de comando e controle dos dois Estados”, numa preparação para exercícios militares maiores agendados para setembro de 2023.

Oficialmente, porém, o lado belarusso segue dizendo que não colocará seus soldados na guerra. Em novembro, o think tank norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra disse, inclusive, que o envolvimento direto de Belarus representaria um “pesado risco doméstico” para a sobrevivência” do regime de Alexander Lukashenko.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que a Rússia, governada pelo aliado Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsch Welle, em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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