Rússia quer “apagar a soberania” de Ucrânia e Belarus, afirma embaixador dos EUA na OSCE

Segundo Michael Carpenter, Moscou entende "que a identidade ucraniana e belarussa não existe fora da cultura russa"

O objetivo da Rússia com a guerra na Ucrânia é “apagar a soberania de toda uma nação independente”, com Belarus destinada a sofrer o mesmo fim. É o que afirmou na quinta-feira (26) Michael Carpenter, embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

“Os Estados Unidos rejeitam categoricamente os esforços da Rússia para descartar e reprimir a cultura, a história e o Estado distinto da Ucrânia”, disse Carpenter. “Também apoiamos fortemente a soberania e a independência de Belarus, que tem uma história orgulhosa e sua própria cultura rica também”.

Encontro entre Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

De acordo com o embaixador norte-americano, Moscou tem mostrado um padrão histórico de negar a existência de nações soberanas, agindo para “incorporá-las a seu império”. Segundo ele, o presidente russo Vladimir Putin já “deixou claro” que as vizinhas Ucrânia e Belarus “pertencem” à Rússia.

Várias ações já foram feitas no sentido de classificar as ações russas como genocidas por tentar eliminar a Ucrânia e seus cidadãos. Em maio de 2022, um relatório assinado por estudiosos independentes e especialistas em direitos humanos afirmou que Moscou tem a “intenção de destruir” o povo ucraniano. Países como o Canadá e a Lituânia também classificaram as ações da Rússia na guerra como genocídio.

Até mesmo o presidente dos EUA, Joe Biden, seguiu essa linha em abril do ano passado. “Chamei isso de genocídio porque fica cada vez mais claro que Putin está simplesmente tentando acabar com a ideia de ser ucraniano”, disse ele. “As evidências estão se acumulando. Parece diferente da semana passada. Mais evidências estão surgindo literalmente das coisas horríveis que os russos fazem na Ucrânia”.

Carpenter, por sua vez, declarou nesta quinta que “a linguagem e a visão de Putin sobre a Ucrânia e seu povo são essenciais para entender a conduta brutal das forças russas na Ucrânia”.

Michael Carpenter, embaixador dos EUA na OSCE (Foto: osce.usmission.gov)
A incorporação de Belarus

A situação é diferente com Belarus, um aliado de primeira ordem de Moscou. O que coloca o país sob ameaça é a submissão a Putin. O jornalista russo Konstantin Eggert afirmou, em artigo publicado pela rede alemã Deutsch Welle, em março de 2022, que “tudo o que o Kremlin está fazendo aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso Alexander Lukashenko levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse ele na ocasião.

O embaixador norte-americano na OSCE declarou que, entre os russos, a questão é tratada abertamente e não deixa margem a dúvidas. “A liderança da Rússia professou aberta e repetidamente a crença de que a identidade ucraniana e belarussa não existe fora da cultura russa”, afirmou ele.

A historiadora ucraniana Olesya Khromeychuk, diretora do Instituto Ucraniano de Londres, fez afirmação semelhante em artigo para o jornal The New York Times em novembro de 2022. “Segundo Vladimir Putin, a Ucrânia não existe. Antes de iniciar sua invasão assassina em grande escala, ele negou repetidamente a existência do país em ensaios e discursos pseudo-históricos”, disse ela. 

Tags: