O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, anunciou na terça-feira (25) que o Reino Unido elevará os gastos com defesa para 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) a partir de 2027. A decisão será financiada por uma redução no orçamento de ajuda internacional, que passará de 0,5% para 0,3% da renda nacional bruta. As informações são do Politico.
O anúncio ocorre às vésperas da visita de Starmer a Washington, onde ele se reunirá com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para discutir temas de segurança global, incluindo a guerra na Ucrânia. Desde que assumiu o cargo em julho passado, o governo britânico já havia estabelecido a meta de 2,5% para os investimentos militares, mas sem um prazo definido. Agora, a nova diretriz antecipa esse compromisso e o mantém até o fim do atual parlamento, em 2029.

Prioridade para defesa
De acordo com Starmer, a ampliação do orçamento militar representa “o maior aumento sustentado nos gastos com defesa desde o fim da Guerra Fria”. A medida, segundo ele, é uma resposta necessária diante das ameaças geopolíticas atuais.
“Um desafio geracional exige uma resposta geracional”, afirmou o premiê ao Parlamento.
O aumento nos investimentos significará um acréscimo de £ 13,4 bilhões (US$ 16,9 bilhões) no orçamento de defesa a partir de 2027. O governo também projeta a possibilidade de elevar os gastos para 3% do PIB na próxima legislatura, caso as condições fiscais permitam.
Além das Forças Armadas, os serviços de inteligência britânicos terão papel central nessa estratégia. Ao incluir os investimentos na área de inteligência, os gastos com defesa chegariam a 2,6% do PIB. A importância desse setor foi reforçada por Jonathan Reynolds, secretário de Negócios, que defendeu que a inteligência britânica deve ser considerada parte da segurança coletiva ocidental.
Entretanto, ao ser questionado pelo Politico, o governo negou planos para redefinir a classificação dos gastos com defesa, mantendo a inteligência fora do cálculo principal.
Encontro com Trump
O encontro entre Starmer e Trump deverá girar em torno do compromisso europeu com a defesa, um tema que o presidente dos EUA tem cobrado com insistência. Trump já alertou que os Estados Unidos não participarão de missões de manutenção da paz caso um acordo entre Moscou e Kiev seja alcançado.
Diante desse cenário, Starmer planeja apresentar o aumento dos gastos militares britânicos como um sinal do comprometimento do Reino Unido com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e com a segurança da Europa.
“Esse investimento fortalecerá a posição do Reino Unido como um dos líderes na aliança militar ocidental”, declarou.
Apesar do alinhamento com os EUA, o premiê britânico insistiu que a decisão de antecipar o aumento nos investimentos militares foi independente e já vinha sendo considerada desde o início da guerra na Ucrânia, há três anos.
“Essa é uma decisão minha, baseada na minha avaliação das circunstâncias que enfrentamos”, afirmou Starmer, embora tenha reconhecido que os avanços em direção a negociações de paz na Ucrânia colocaram a resposta britânica “em foco nítido”.
Questionado sobre o apoio dos EUA à Rússia em algumas votações na ONU (Organização das Nações Unidas) nesta semana, Starmer evitou críticas diretas e destacou a importância de manter uma relação próxima com Washington.
“Trabalhar em estreita colaboração com Trump é muito mais importante do que comentar resoluções específicas da ONU”, afirmou.
O governo britânico divulgará em breve a Revisão Estratégica de Defesa, que detalhará as principais ameaças ao país e o caminho para alcançar a meta de 2,5% de investimentos militares. Antes da cúpula da Otan, em junho, Starmer também se comprometeu a apresentar uma estratégia nacional de segurança ao Parlamento.
Cortes na ajuda internacional geram críticas
O financiamento do aumento nos gastos militares por meio do corte no orçamento de ajuda internacional provocou reações no setor humanitário.
“Não é um anúncio que me traz satisfação”, admitiu Starmer, garantindo que o Reino Unido continuará apoiando ações humanitárias no Sudão, na Ucrânia e em Gaza. O premiê também afirmou que há a intenção de restaurar os níveis de investimento em desenvolvimento assim que houver condições econômicas favoráveis.
“Faremos o possível para reconstruir nossa capacidade de desenvolvimento, mas, neste momento, a defesa e a segurança do povo britânico devem estar em primeiro lugar”, declarou.
A decisão foi duramente criticada por Romilly Greenhill, diretora-executiva da Bond, organização que representa instituições britânicas voltadas ao desenvolvimento internacional.
“É uma escolha míope e alarmante. Reduzir ainda mais um orçamento de ajuda já enfraquecido para ampliar os gastos militares é imprudente e terá consequências devastadoras para milhões de pessoas vulneráveis ao redor do mundo”, afirmou.
A medida representa mais um golpe para o setor de ajuda internacional no Reino Unido. Em 2020, o governo conservador reduziu o orçamento de desenvolvimento de 0,7% para 0,5% do PIB como uma medida temporária devido à pandemia de Covid-19. Na mesma época, o Departamento para o Desenvolvimento Internacional, criado sob o governo do Novo Trabalhismo, foi dissolvido.
Com a nova redução prevista para 2027, o Reino Unido se afastará ainda mais dos compromissos históricos com a assistência global, aprofundando o debate sobre suas prioridades estratégicas nos próximos anos.