Testes no Reino Unido mostram que OpenRAN é ‘mais desafiador que o previsto’

Objetivo é diversificar a cadeia global de fornecimento de telecomunicações e fornecer conectividade rápida, segura e confiável

O governo do Reino Unido anunciou a conclusão da primeira fase do programa Sonic Labs, etapa em que foram realizados testes de integração de produtos OpenRAN em sistemas funcionais de ponta a ponta. O estudo é parte de um investimento de 15 milhões de libras (R$ 93,2 milhões), que pretende diversificar a cadeia global de fornecimento de telecomunicações e fornecer conectividade rápida, segura e confiável.

O trabalho está a cargo da Digital Catapult, uma agência de inovação governamental para a indústria digital e de software, em parceria com a Ofcom, o regulador de comunicações do Reino Unido. Por meio dele, cinco empresas tiveram a oportunidade de acelerar o desenvolvimento de seus produtos OpenRAN e estão garantidas para as próximas etapas.

Na primeira fase, foi criado um laboratório de telecomunicações independente. Segundo nota do governo, o objetivo era o de usar o espaço para analisar a falta de diversidade nos provedores de telecomunicações e uma “notável sub-representação dos fornecedores do Reino Unido entre os principais fornecedores de hardware e software de acesso 5G no cenário global”.

Conexão 5G está no centro do debate do sistema OpenRAN (Foto: James Yarema/Unsplash)

Entre as conclusões do estudo inicial, os pesquisadores disseram que a integração e implantação de um sistema OpenRAN em nível de hardware e software “provou ser mais desafiador que o previsto”. Entre os principais obstáculos observados, eles destacaram a dificuldade de transporte de dispositivos para um novo ambiente.

Agora, os pesquisadores levarão os conhecimentos adquiridos na fase inicial para a segunda etapa do programa. Os próximos passos incluirão testagem de integração de produtos em um cenário de laboratório, bem como em um ambiente interno e externo; exploração do impacto econômico potencial do OpenRAN; e incentivo a fornecedores inovadores para que participem do ecossistema de telecomunicações do Reino Unido, de modo a fornecer um caminho mais rápido para a implantação nas redes no país.

Embora a próxima geração das redes móveis trazida pelo 5G já seja uma realidade, no Reino Unido, o 2G e o 3G ainda levarão mais de dez anos para serem totalmente descontinuados. Porém, ao mesmo tempo em que o governo projeta uma troca de bastão suave entre as tecnologias até 2033, também aumenta a pressão sobre as operadoras móveis britânicas para que adotem arquiteturas OpenRAN no decorrer desta década.

Impulso tecnológico

O programa Sonic Labs, também conhecido como Sonic1, já tem dois anos de vida, sendo financiado pela Departamento de Cultura, Mídia e Esportes (DCMS, da sigla em inglês). Resumidamente, ele irá permitir que novos provedores de soluções entrem na cadeia de suprimentos de telecomunicações 5G britânica. 

Segundo o governo, ele impulsionará o lançamento do Open RAN, uma nova tecnologia de comunicação sem fio que permite que redes móveis sejam construídas usando uma variedade de fornecedores de equipamentos diferentes.

Por que isso importa?

Imagine uma internet que utilize tecnologias abertas capazes de se conectar e interagir entre si, independentemente do provedor de acesso. Esse é o princípio do OpenRAN, um movimento que busca democratizar o acesso ao mundo digital e representaria, por meio de um intercâmbio operacional de equipamentos – como torres e antenas de transmissão compartilhadas – uma libertação em relação aos gigantes estrangeiros do setor.

Uma das vantagens dos sistema aberto é financeira. À medida que o leque de alternativas cresce e a competição da corrida tecnológica fica mais acirrada, menos as empresas tendem a gastar com o serviço

Embora ainda engatinhe no Brasil, o OpenRAN é um mercado novo e em plena ascensão no mundo. “A arquitetura OpenRan ainda não está madura para utilização em larga escala”, diz a Anatel  (Agência Nacional de Telecomunicações). Os players estimam períodos diferentes para a maturação, em geral de dois a cinco anos”, acrescenta a agência.

A Anatel também prevê vantagens financeiras. Em relatório inicial sobre os estudos, a entidade projeta que as operadoras podem economizar até 30% em cinco anos, prazo máximo para que a tecnologia aberta esteja em pleno funcionamento, conforme previsão da agência.

Segundo Ericson M. Scorsim, advogado doutor em Direito pela USP (Universidade de São Paulo), consultor em Direito Regulatório das Comunicações e autor do livro ‘Jogo geopolítico das comunicações 5G: Estados Unidos e China: impacto no Brasil’, o movimento ajudaria a descentralizar a internet.

“O modelo depende da autorregulação do mercado, não propriamente da posição de uma única empresa”, explica. E acrescenta que intervenções normativas por parte de governos e agências regulatórias podem impulsionar o movimento, surgido em 2017 justamente para democratizar partes das redes de telecomunicações, de modo que elas não operem somente através de gigantes da indústria.

É nos Estados Unidos que o movimento mais cresce, com incentivos regulatórios para a adesão à arquitetura das redes de acesso via rádio. Esse tipo de fomento pode ser o caminho para o surgimento de novas concorrências e consequente redução da influência dos gigantes no setor.

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