Reino Unido prende mais um membro de grupo búlgaro de espionagem pró-Moscou

Indivíduo é acusado de 'conspirar para coletar informações destinadas a serem direta ou indiretamente úteis a um inimigo'

O governo britânico anunciou na terça-feira (27) a prisão de um cidadão de nacionalidade búlgara acusado de espionagem para a Rússia. Identificado como Tihomir Ivanov Ivanchev, ele é a sexta pessoa oriunda da Bulgária detida desde o ano passado no Reino Unido sob suspeita de servir à inteligência de Moscou.

Comunicado divulgado pela polícia de Londres afirma que Ivanchev “é acusado de conspirar para coletar informações destinadas a serem direta ou indiretamente úteis a um inimigo para fins prejudiciais à segurança e ao interesse do Estado.”

Embora o caso só tenha sido revelado agora, o homem foi preso no dia 7 de fevereiro. Ele seria membro de um grupo de agentes búlgaros a serviço de Moscou no Reino Unido, sendo que outras cinco pessoas foram presas em setembro de 2023 e serão julgadas em outubro deste ano pelos mesmos crimes.

Um sétimo nome foi citado na acusação, suspeito de atuar em parceria com os búlgaros. Trata-se do austríaco Jan Marsalek, ex-executivo de uma empresa de processamento de pagamentos que foi acusado de fraude na Alemanha, onde teria participado de um esquema avaliado em US$ 2,3 bilhões que levou a Wirecard à falência.

Berlim afirma que Marsalek foi recrutado e treinado pelo FSB (Serviço de Segurança Federal da Rússia), algo determinante para ele escapar das autoridades alemãs em 2020. Acredita-se que esteja escondido em Moscou desde que foi descoberta sua ligação com a inteligência russa.

Policiais britânicos: espionagem russa na mira do Reino Unido (Foto: Stanislav Kozlovskiy/WikiCommons)
Combate à espionagem russa

As atividades de espionagem russas na Europa sofreram um duro golpe nos últimos anos. Episódios como o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal, no Reino Unido, levaram as nações do continente a fecharem o cerco contra Moscou, repressão que aumentou ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Nos últimos anos, centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus sob a acusação de que vinham atuando como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro de 2022 que mais de 600 russos foram obrigados a deixar países europeus nessas condições.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou (o presidente russo Vladimir) Putin de surpresa.”

Somente no Reino Unido, mais de cem pedidos de vistos diplomáticos feitos por Moscou foram rejeitados desde 2018, quando Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra. A inteligência russa foi acusada de coordenar a ação, embora Moscou até hoje negue envolvimento.

assassinato do homem (a filha sobreviveu) comprometeu as relações diplomáticas entre os governos britânico e russo e levou à primeira onda de expulsões de diplomatas suspeitos de atuarem como espiões. De lá para cá, diversos países europeus também detectaram membros do corpo diplomático russo que exerciam atividades incompatíveis com suas funções e igualmente os forçaram a ir embora.

Outro país que iniciou uma dura campanha de combate à espionagem russa foi a Alemanha, que em 2022 registrou um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou. Nesse sentido, relatório divulgado pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico, destaca as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Nos últimos anos, para conter o problema, o governo alemão também expulsou dezenas de supostos diplomata russos acusados de atuarem como espiões disfarçados. No final de maio de 2023, Berlim ainda anunciou que quatro dos cinco consulados da Rússia no país teriam suas licenças revogadas, sendo, portanto, fechados.

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