Relatório da ONU aponta que mais de 4,7 mil civis morreram na guerra da Ucrânia

Segundo relatório da ONU, número real é ainda mais alarmante, vez que inúmeros casos não puderam ser verificados

A guerra na Ucrânia, que completou quatro meses na última sexta-feira (24), já matou milhares de civis. Até agora são 4.731 mortos oficialmente confirmados, de acordo com levantamento do ACNUDH (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos). Mas o número real é ainda mais alarmante devido à subnotificação. As informações são do portal Washington Examiner.

Durante o período do relatório, foi registrado um total de 8.368 vítimas civis, com 3.924 pessoas mortas e 4.444 pessoas feridas. Pelo menos 95 meninas, 98 meninos, 985 mulheres e 1.519 homens, além de 1.227 pessoas cujo sexo ainda é desconhecido, foram mortos de 24 de fevereiro a 15 de maio. E ao menos 104 meninas, 126 meninos, 604 mulheres e 907 homens, mais 2.703 pessoas cujo sexo ainda é desconhecido, foram feridas.

Em entrevista coletiva em Kiev, Matilda Bogner, chefe da Missão de Monitoramento de Direitos Humanos na Ucrânia, detalhou as conclusões do relatório. Segundo ela, os números de vítimas são “consideravelmente maiores”, já que o documento somente apresenta dados que a missão conseguiu verificar de forma independente desde o início da guerra até 15 de maio. Isso significa, por exemplo, que as últimas seis semanas da guerra não estão incluídas.

“O ataque armado da Federação Russa contra a Ucrânia teve um impacto devastador nos direitos humanos em todo o país. Documentamos violações do direito internacional dos direitos humanos e do direito internacional humanitário, incluindo crimes de guerra. Essas violações destacam o alto preço que o conflito está tendo dia após dia”, disse ela.

Mulher caminha ao lado de blindado russo destruído em Bucha, arredores de Kiev (Foto: manhhai/Flickr)

O novo relatório do ACNUDH levantou mais de cem casos de estupro e danos causados ​​a cerca de 230 escolas, 182 instalações médicas e 72 templos religiosos, além de aproximadamente 250 casos de detenção arbitrária.

Quanto à violência sexual, que soma 108 casos no total, 75% foram de estupro. Cerca de 90 deles são atribuídos ao exército russo ou a grupos afiliados. A ONU conseguiu verificar 23 desses abusos e relata que os detalhes, que envolvem tortura, pintam um “quadro horrível”.

O relatório foi construído com base em informações coletadas durante 11 visitas de campo, três idas a locais de detenção e 517 entrevistas com vítimas e testemunhas entre 24 de fevereiro e 15 de maio de 2022. As evidências também se sustentam em documentos judiciais, registros oficiais e fontes abertas.

De acordo com Matilda, o documento reúne violações dos direitos humanos internacionais e do direito humanitário “em graus variados, por ambas as partes”.

“O alto número de vítimas civis e a extensão da destruição e danos causados ​​à infraestrutura civil levantaram preocupações significativas de que os ataques conduzidos pelas forças armadas russas não cumpriram o direito internacional humanitário”, analisou a chefe da Missão de Monitoramento de Direitos Humanos. “Embora em uma escala muito menor, também parece que as forças armadas ucranianas não cumpriram o direito internacional humanitário nas partes orientais do país”, acrescentou.

Civis expostos

Entre as ofensivas pesadas do exército russo em alvo não militares estão o bombardeio desta semana no shopping Kremenchuk, onde estavam mais de mil pessoas quando o local foi atingido por um míssil, segundo o presidente ucraniano Volodymyr Zelensly.

Desde o início da guerra, também se destacam um ataque a uma estação de trem em Kramatorsk, que matou pelo menos 50 pessoas, um ataque a uma maternidade em Mariupol e o bombardeio de um teatro na mesma cidade que abrigava civis, inclusive mulheres grávidas e crianças. Esta última agressão ocorreu mesmo após moradores terem escrito a palavra “CRIANÇAS” em cirílico, o alfabeto russo, dos dois lados do prédio, numa tentativa de evitar ataques aéreos às instalações.

O governo ucraniano e o Tribunal Penal Internacional (TPI) somam esforços para investigar esses supostos crimes de guerra, à medida que ganham apoio dos Estados Unidos e de outros aliados ocidentais. Até agora, três soldados russos foram julgados e condenados por esse tipo de violação. Novos tribunais devem ocorrer.

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