Rússia classifica 11 emissoras como “agentes estrangeiros”

Veículos de comunicação norte-americanos estão no topo da lista; secretário de Estado manifestou "preocupação"

O Ministério da Justiça da Rússia definiu que 11 agências e emissoras internacionais são consideradas “agentes estrangeiros” no país. Listadas desde 2017, a última inclusão foi da emissora americana “Radio Free Europe”, em fevereiro.

Além de serviços específicos da RFE, também integra a lista o VOA (Voice Of America), serviço oficial de radiodifusão internacional dos EUA e a “Current Times”, emissora de televisão produzida em conjunto pelas duas organizações.

O objetivo da ordem é restringir ainda mais a mídia na Rússia e instar medo em quem consome essas informações, avalia a presidente da RFE, Daisy Sindelar.

Na Rússia, 11 emissoras internacionais são consideradas "agentes estrangeiros"
Jornalistas de canais estatais russos entrevistam o ex-presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, em dezembro de 2019 (Foto: The Russian Goverment)

Pouco antes, o Rozkomnadzor, regulador de mídia russo, ordenou que os 11 meios de comunicação registrados como “agentes estrangeiros” identificassem essa classificação em seus materiais.

O não-cumprimento acarretaria em multas de até 100 mil rublos (R$ 7,6 mil) ou até 15 dias de custódia para os responsáveis pelos veículos. Hoje as organizações podem ser multadas em até 5 milhões de rublos (R$ 380 mil).

Na última segunda-feira (10), o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, afirmou que Washington está “profundamente preocupado” com a situação.

Para Pompeo, ao tentar atingir a imprensa estrangeira, a Rússia já implantou “restrições significativas e indevidas” à VOA e RFE.

“Pedimos que a Rússia cumpra as suas obrigações e compromissos da OSCE [Organização pela Segurança e Cooperação da Europa] com a liberdade de expressão”, disse o secretário.

Focos de desinformação

Em meio à pandemia, há suspeitas de uma máquina de propaganda russa que espalha informações falsas sobre o vírus. “Nosso inimigo não é apenas a pandemia, mas uma infodemia de desinformação”, lembrou o secretário-geral da ONU, (Organização das Nações Unidas) António Guterres.

Após a internação do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, com sintomas da Covid-19, a agência estatal russa, RIA Novosti, divulgou que sua hospitalização fora urgente e havia necessidade de ventilação mecânica.

A informação foi desmentida posteriormente pelo Reino Unido. Acredita-se que a agência procurava criar a narrativa de que os países ocidentais são “mais vulneráveis” e lidavam mal com a pandemia, diz o site “Real Clear World“.

Outro exemplo de desinformação russa ocorreu na Itália, no pico do surto. À época, a mídia russa sugeriu que os aliados ocidentais abandonaram os italianos, enquanto a Rússia teria dado ajuda significativa.

O Kremlin enviou de fato equipamentos ao país, mas o governo italiano já afirmou que 80% deles eram suprimentos inutilizáveis.

Entre outros incidentes, cresce a desconfiança sobre Moscou após anúncio de uma suposta vacina eficaz contra o novo coronavírus.

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