Rússia ‘mente com confiança’ ao negar crimes de guerra, afirma presidente ucraniano

Moscou continua a negar crimes de guerra e diz que Ucrânia encenou mortes após bombardeio que teria atingido maternidade

A Rússia continua a refutar as acusações de crimes de guerra feitas pela Ucrânia e por nações ocidentais no conflito que teve início no dia 24 de fevereiro. Nas palavras do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, os russos “mentem com confiança” ao negarem as mortes de civis, entre eles mulheres e crianças vítimas de bombardeios efetuados por Moscou. As informações são da agência Reuters.

De acordo com o Escritório de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), entre o dia 24 de fevereiro, quando ocorreu a agressão russa, e 9 de março foram confirmadas oficialmente as mortes de 549 civis, com 957 feridos. O órgão, porém, afirma que “os números reais são consideravelmente maiores, especialmente em território controlado pelo governo e especialmente nos últimos dias, pois o recebimento de informações de alguns locais onde ocorreram intensas hostilidades foi atrasado, e muitos relatórios ainda aguardam confirmação”.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (Foto: Wikimedia Commons)

Num dos episódios mais chocantes da guerra, uma maternidade foi atingida por um bombardeio, quarta-feira (9), na cidade portuária de Mairupol. Três pessoas teriam sido mortas, entre elas uma criança, segundo a Ucrânia, que cita ainda outras 17 pessoas feridas, inclusive mulheres grávidas e membros da equipe do hospital. Tais dados ainda carecem de verificação independente.

Em vez de usar as habituais negativas, dessa vez Peskov disse que não caberia a ele comentar o caso. “Definitivamente vamos perguntar aos nossos militares, porque você e eu não temos informações claras sobre o que aconteceu lá”, disse ele. “E é muito provável que os militares forneçam algumas informações”.

Já Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, foi mais incisiva, adotando a postura padrão do governo Putin quando confrontado com esse tipo de questão. “Isso é terrorismo de informação”, disse ela.

Na mesma linha seguiu o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, que atacou o que ele classificou como “gritos patéticos sobre as chamadas atrocidades das forças armadas russas“. E justificou o bombardeio, dizendo que não havia pacientes na maternidade e que o prédio estava sob o controle de ultrarradicais ucranianos.

O discurso de Lavrov, prontamente desmentido por Zelensky, é compatível com as alegações do presidente Vladimir Putin de que realiza uma “operação militar especial” com o objetivo de desnazificar a Ucrânia”.

Oficialmente, no caso da maternidade, a Rússia diz que a Ucrânia mente sobre as vítimas e que as imagens de mortos e feridos são uma encenação.

Crimes de guerra

A vice-presidente norte-americana Kamala Harris engrossou o coro por uma investigação de crimes de guerra cometidos pelos russos, na esteira do ataque à maternidade de Mariupol.

Harris se manifestou na quinta-feira (10), em entrevista coletiva ao lado do presindete polonês Amdrzej Duda. Ela viajou à Polônia em sinal de apoiou aos Estados-membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no leste europeu.

“Absolutamente deve haver uma investigação, e todos devemos estar atentos”, disse Harris, que destacou o fato de a ONU (Organização dasNações Unidas) ter iniciado uma apuração independente dos relatos. “Não tenho dúvidas de que os olhos do mundo estão voltados para essa guerra e para o que a Rússia fez em termos dessa agressão e dessas atrocidades”.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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