Rússia tira bandeira polonesa de memorial de massacre soviético na Segunda Guerra

O prefeito de Smolensk, Andrei Borisov, disse que a decisão foi tomada pelo Ministério da Cultura. "Não pode haver bandeiras da Polônia em monumentos russos"

Uma bandeira da Polônia, que homenageava oficiais poloneses mortos pelas forças soviéticas em 1940, foi retirada de um memorial na cidade russa de Smolensk. A remoção, feita na semana passada por autoridades locais, ocorre em meio a uma atmosfera de piora nas relações entre Moscou e Varsóvia por conta do conflito na Ucrânia. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

O desaparecimento foi notado na última sexta-feira (24) por historiadores e visitantes que passaram pelo local. O fato foi comentado nas mídias sociais.

Também nas redes, o prefeito de Smolensk, Andrei Borisov, confirmou que apenas a bandeira russa está hasteada na entrada do memorial de Katyn. Ele publicou uma foto na rede social VK.

“Não pode haver bandeiras polonesas em monumentos russos. Muito menos depois dos comentários francamente antirrussos de líderes políticos poloneses”, escreveu Borisov no post. “O Ministério da Cultura da Federação Russa tomou a decisão certa ao retirar a bandeira polonesa. Katyn é um memorial russo”, acrescentou.

(Foto: kultjurmultjur/Reprodução Telegram)

O monumento lembra os 25 mil oficiais militares poloneses mortos pelas União Soviética em 1940 sob ordens de Joseph Stalin. O episódio, conhecido como Massacre de Katyn, foi negado pelos soviéticos por longos anos, até a era de Mikhail Gorbachev.

O incidente diplomático ocorre paralelamente a um aumento nas tensões entre os países, motivada pela invasão das tropas de Vladimir Putin à Ucrânia há quatro meses. Varsóvia, que é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e da União Europeia (UE), se colocou do lado de Kiev, a quem inclusive fornece armas.

Além disso, a Polônia é o principal destino de refugiados ucranianos, tendo recebido 3,5 milhões de pessoas, segundo a Acnur (Agência da ONU para Refugiados). Já as autoridades polonesas registraram mais de 1,1 milhões de pessoas, 94% das quais são mulheres e crianças, fornecendo-lhes um número de identificação estatal que permite o acesso aos serviços.

Relação espinhosa

Segundo a rede alemã Deutsche Welle, em 2009, durante as cerimônias de 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial, Putin, então primeiro-ministro, classificou o ocorrido em Katyn como “crime”, propondo à Polônia um revisionismo histórico, com ambos os lados envolvidos na checagem dos fatos.

À época, observadores classificaram como histórica sua aproximação com o então chefe de governo polonês Donald Tusk, em 2010, à beira das sepulturas de Katyn. A reconciliação parecia possível naquele raro instante.

Em 2010, um avião com destino a Smolensk que transportava o presidente polonês Lech Kaczynski caiu, matando seus 96 passageiros. A investigação sobre o incidente acabou se transformando em outra fonte de tensão depois que os países tentaram melhorar seus laços.

Corta para o presente. No mês passado, manifestantes pró-Ucrânia deram um banho de tinta vermelha no embaixador da Rússia na Polônia enquanto ele tentava colocar flores em um monumento em Varsóvia em reverência ao Dia da Vitória.

Sergey Andreyev foi atacado na chegada ao cemitério dos soldados soviéticos na capital polonesa, onde participaria de uma celebração à data que lembra triunfo sobre os nazistas no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Ele ainda ouviu gritos de “fascista” e “assassino” durante a manifestação.

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