Rússia abandona outro pacto militar, é criticada pelos EUA e amplia tensão com Ocidente

Moscou se retirou de tratado com a Otan que controlava a presença militar em regiões próximas às fronteiras de ambos

A Rússia formalizou na terça-feira (7) sua saída do Tratado sobre Forças Armadas Convencionais na Europa (CFE, na sigla em inglês), firmado no final da Guerra Fria, em 1990. A decisão, que gerou críticas do governo norte-americano e levou a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) a suspender o pacto temporariamente, amplia o distanciamento entre Moscou e o Ocidente e gera ainda mais tensão no campo da segurança internacional.

O CFE tinha como objetivo evitar que a Rússia, de um lado, e a Otan, do outro, estacionassem tropas e equipamentos militares em regiões próximas a suas fronteiras mútuas. Com a decisão de Moscou de deixar o pacto, a aliança militar transatlântica acabou por suspendê-lo, abrindo assim espaço para que os dois lados intensifiquem a militarização em áreas particularmente delicadas para ambos na Europa.

O presidente Vladimir Putin durante conferência de imprensa em Moscou (Foto: Kremlin.ru)

De acordo com o site The Hill, Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, afirmou que o anúncio “demonstra ainda mais o contínuo desrespeito de Moscou pelo controle de armas.”

A autoridade norte-americana ainda justificou a decisão da Otan de suspender o CFE, dizendo que “a combinação da retirada da Rússia do Tratado e a sua contínua guerra de agressão em grande escala contra a Ucrânia alterou fundamentalmente as circunstâncias que eram essenciais para o consentimento dos Estados-Partes do CFE em ficarem vinculados ao Tratado e transformou radicalmente as obrigações decorrentes do Tratado.”

A aliança militar, por sua vez, repetiu as palavras de Sullivan em comunicado publicado em seu site e acrescentou que “a retirada da Rússia é a mais recente de uma série de ações que sistematicamente minam a segurança euro-atlântica.”

“Embora reconheça o papel do CFE como pedra angular da arquitetura de segurança euro-atlântica, uma situação em que os Estados-Partes aliados cumpram o Tratado, enquanto a Rússia não o faz, seria insustentável”, justifica a Otan no texto.

Embora só tenha sido formalizada agora, a saída da Rússia já havia sido encaminhada. O país suspendeu sua participação em 2007, e em 2015 anunciou a intenção de sair definitivamente. Só agora, entretanto, assinou a decisão.

Ameaça nuclear

O anúncio surge em momento emblemático, com o distanciamento entre Moscou e seus rivais ocidentais em um estágio que não se via desde os tempos da Guerra Fria.

A retirada do CFE se soma a outra decisão impactante para a segurança global, a anulação da ratificação russa ao Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT, da sigla em inglês), de 1996.

No final da semana passada, o presidente Vladimir Putin aprovou a anulação do Artigo 1º da lei que tratava da ratificação do CTBT, efetivamente cancelando essa validação. Ele alegou que Moscou apenas seguiu o exemplo dos Estados Unidos, que assinaram o tratado, mas não o ratificaram.

Um sinal claro de que as decisões de Moscou não são meramente ilustrativas são as frequentes ameaças de usar seu arsenal nuclear, o maior do mundo, para ameaçar o Ocidente, que fornece armas e treinamento às tropas de Kiev em meio ao conflito com a Rússia.

O governo russo chegou a firmar um acordo para posicionar armas nucleares estratégicas em Belarus, mais perto da fronteira com a Otan. Na semana passada, o ex-presidente russo Dmitry Medvedev ainda classificou a Polônia, membro da aliança, como “inimigo perigoso“, sugerindo a “morte do Estado polonês na sua totalidade.”

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