As Forças Armadas da Rússia conseguirão reunir, até o final desta década, equipamento e pessoal suficientes para um eventual ataque contra a Otan (organização do Tratado do Atlântico Norte). Esta é a avaliação de Bruno Kahl, chefe do Serviço Federal de Inteligência (BND, na sigla em alemão) da Alemanha, cuja declaração foi reproduzida pelo site The Defense Post.
“Quer gostemos ou não, estamos em um confronto direto com a Rússia”, disse ele em uma audiência parlamentar. “Em termos de pessoal e material, as Forças Armadas russas provavelmente serão capazes de realizar um ataque contra a Otan até o final da década, no máximo.”
Enquanto não reúne forças para um conflito com o Ocidente, Moscou aposta em atos de sabotagem para tentar enfraquecer seus adversários, de acordo com o chefe da inteligência estrangeira alemã. “A espionagem e a sabotagem russas na Alemanha estão aumentando, tanto qualitativa quanto quantitativamente”, declarou Kahl.

Thomas Haldenwang, diretor da Agência para a Proteção da Constituição, a inteligência doméstica alemã, também falou perante o Bundestag, o parlamento alemão. “A espionagem e a sabotagem russas na Alemanha estão aumentando, tanto qualitativa quanto quantitativamente”, afirmou, citando um exemplo recente de como agem os russos.
Em julho deste ano, um pacote explosivo direcionado a um avião de carga da empresa DHL não causou uma tragédia graças ao que a autoridade chamou de “lance de sorte”. Haldenwang contou que o dispositivo pegou fogo no chão do aeroporto de Leipzig antes de poder ser carregado no avião.
“Se tivesse explodido a bordo durante o voo, teria havido um acidente, e os destroços poderiam ter atingido todas as pessoas aqui na Alemanha que, aberta ou secretamente, simpatizam com Putin”, disse ele.
A chefe da inteligência militar Martina Rosenberg concordou com os dois colegas e afirmou, durante a audiência parlamentar, que as Forças Armadas alemãs registraram um “aumento significativo” nas atividades de espionagem e sabotagem ligadas à Rússia.
Incidentes frequentes
O interesse russo pela Alemanha pode ser explicado pela posição que o país ocupa atualmente na aliança ocidental. Além de ser um dos mais importantes apoiadores da Ucrânia na guerra, tem as maiores população e economia da União Europeia (UE), tornando-se forte influenciadora no bloco inclusive em questões referentes a Moscou.
Em setembro de 2022, Berlim anunciou que dois funcionários de seu Ministério da Economia estavam sob investigação por suspeita de espionagem em favor da Rússia. Os nomes não foram revelados, apenas que ambos eram responsáveis por questões energéticas sensíveis e teriam ajudado a alimentar o debate pró-Moscou, espalhando críticas ao chanceler Olaf Scholz por suspender o processo de regularização do gasoduto Nord Stream 2.
No início de outubro daquele ano, a Deutsche Bahn (DB), operadora do sistema ferroviário alemão, foi alvo de uma ação que interrompeu a circulação de trens de carga e de passageiros por cerca de três horas. O Ministério dos Transportes suspeita de sabotagem, vez que cabos essenciais para a segurança do tráfego ferroviário foram deliberadamente cortados.
Naquele mesmo mês, o Ministério do Interior da Alemanha anunciou a demissão de Arne Schoenbohm, que até então chefiava o Departamento Federal de Segurança da Informação. A proximidade com a Rússia levou à decisão.
Há cerca de dez anos, Schoenbohm fundou um grupo de segurança digital que reúne entidades dos setores privado e público. Porém, em 2022 surgiu a denúncia de que uma empresa participante foi fundada por um agente russo, situação que teria sido ignorada pelo chefe do Departamento Federal de Segurança da Informação.