Russos que fugiram do exército para ‘salvar a vida’ são condenados por deserção

Réus foram mobilizados em setembro de 2022 e seriam enviados ao campo de batalhas. Penas chegam a sete anos de prisão

Um tribunal militar russo condenou a até sete anos de prisão oito cidadãos considerados desertores porque fugiram de um campo de treinamento após terem sido recrutados como parte do programa de mobilização parcial anunciado pelo presidente Vladimir Putin em setembro de 2022. As informações são do site Mediazona.

Os condenado são seis soldados, um marinheiro e um sargento. Eles foram recrutados em setembro, o primeiro mês de mobilização, e enviados a um campo de treinamentos em Luhansk, região no leste ucraniano ocupada por Moscou desde 2014. Em dezembro, quando foram informados de que seriam enviados para o campo de batalhas, decidiram fugir “para salvar a vida e a saúde.”

Os réus argumentaram que resolveram deixar o campo devido à falta de estrutura, alegando que as tropas estavam sem mantimentos e uniformes adequados. Em vez de se esconderem, todos seguiram até a cidade de Podolsk, na região de Moscou, onde procuraram a polícia e entregaram suas armas, quatro rifles de assalto e quatro metralhadoras.

Membros das forças armadas da Rússia (Foto: Reprodução/Facebook)
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Casos de deserção nas forças armadas russas têm sido relatados com frequência na guerra da Ucrânia. Um caso emblemático ocorreu logo no início da guerra, antes, portanto, da mobilização parcial que teria adicionado 300 mil indivíduos às forças armadas.

Em março, logo no primeiro mês de conflito, um contingente de aproximadamente 300 soldados de uma unidade militar no norte do Cáucaso russo se recusou a combater e voltou para casa.

O grupo, formado por homens da República do Daguestão, região predominantemente muçulmana no sul da Rússia, estava destacado na região separatista pró-Moscou de Donbass, no leste ucraniano. Mesmo sem receber a autorização de superiores, todos eles teriam retornado à cidade de Buynaksk, onde fica a base de onde foram enviados ao front.

Lá, eles teriam rescindido os contratos com o exército russo e foram acolhidos pela comunidade local como desertores. Alguns dos soldados regressaram com queimaduras de frio devido à exposição ao rigoroso inverno do leste europeu e tiveram membros que precisaram ser amputados.

O problema atingiu também o Wagner Group, organização paramilitar destacada para dar suporte às forças russas na guerra. Em dezembro de 2022 surgiu a informação de que um ex-presidiário russo, que ingressou no front na Ucrânia através da campanha de recrutamento de criminosos condenados, teria sido morto após membros da unidade que ele comandava terem desertado em massa.

Viktor Sevalnev havia sido recrutado pelo Wagner Group e nomeado comandante de uma companhia em Luhansk após a morte em combate do líder anterior. Antes de morrer, em 25 de novembro, ele contou à esposa, em ligação telefônica, que havia sido ameaçado de execução após a debandada dos soldados sob seu comando.

O Kremlin alegou que ele morreu em combate, atingido por estilhaços na cabeça. Porém, Vladimir Osechkin, ativista de direitos humanos que administra o site Gulagu.net, disse à época ter dúvidas sobre a versão oficial. Segundo ele, é provável que Sevalnev tenha sido “executado” por conta da deserção de seus combatentes.

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