Russos recrutados para servir ao exército teriam sido forçados a assinar com o Wagner Group

Vídeo mostra recrutas que deveriam ser levados a um campo de treinamento, mas foram enviados diretamente à Ucrânia pelo grupo mercenário

O Wagner Group, organização paramilitar privada que combate ao lado das tropas da Rússia na guerra da Ucrânia, recrutou à força um grupo de cidadãos originalmente convocados por Moscou para servir às forças armadas regulares. A denúncia foi feita inicialmente pelo site russo Astra e reforçada pelo think tank norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês).

Um vídeo divulgado pelo veículo informativo russo mostra o que seriam 170 recrutas das regiões de Moscou e Ivanovo convocados para servir ao exército no conflito. Porém, o voo que deveria seguir para um campo de treinamentos foi direto para a Ucrânia. Lá, segundo familiares, os indivíduos teriam sido forçados a assinar contrato com o Wagner.

O ISW divulgou evidências que corroboram a denúncia. “Fontes russas afirmaram anteriormente que cem recrutas mobilizados em Luhansk desapareceram em 7 de abril após se recusarem a assinar contrato com o Wagner Group, e imagens geolocalizadas publicadas em 11 de abril mostram o pessoal do Wagner detendo o pessoal mobilizados em Kadiivka antes de escoltá-los para um campo de treinamento não especificado”, diz o think tank.

Combatentes do Wagner Group, organização paramilitar privada aliada ao Kremlin (Foto: VK/reprodução)

De acordo com o ISW, embora o caso em tela exponha uma situação excepcional de indivíduos forçados a servir ao grupo mercenário, o Ministério da Defesa da Rússia autoriza os russos recrutados que assim o desejarem a optar pelo grupo paramilitar em vez do exército regular. Em tese, porém, não são obrigados a acatar ordens nesse sentido.

A atual situação do grupo de 170 homens desaparecidos não está clara, de acordo com o think tank.

A fonte secou

O que força o Wagner a buscar formas alternativas de recrutamento é o número de baixas muito superior ao projetado. A situação é ainda pior porque o governo encerrou o processo de recrutamento de mercenários nas prisões russas. Os condenados recebiam a promessa de perdão por seus crimes em troca de seis meses de serviço paramilitar, o que ajudou a organização a obter mão de obra abundante por um período. Agora, no entanto, a fonte secou.

Também pesam contra o grupo os relatos de que os mercenários menos experientes recebem péssimo tratamento. Em dezembro do ano passado, o Ministério da Defesa do Reino Unido publicou balanço de inteligência dizendo que os recém-recrutados são levados à Ucrânia para atuar na linha de frente e assim reduzir o risco à vida dos membros mais experientes do Wagner Group.

Nova mobilização

As forças armadas russas enfrentam dificuldades semelhantes para preencher suas fileiras. Dessa forma, o governo prepara a implantação de um sistema digital de recrutamento para tentar impedir que seus cidadãos fujam do serviço militar obrigatório. Para analistas, este é um forte indício de que uma segunda onda de mobilização militar será anunciada em breve.

No ano passado, assim que o presidente Vladimir Putin anunciou a mobilização parcial para reforçar as tropas no campo de batalhas, muitos russos optaram por fugir do país. Filas se formaram em certos pontos de fronteira, e voos para países que não exigem visto de entrada se esgotaram rapidamente, com as poucas opções restantes sofrendo um grande aumento nos preços.

Contribuiu muito para a fuga em massa o antiquado sistema de recrutamento, que consiste na entrega pessoal ao indivíduo em questão de um documento impresso. Portanto, sair de casa geralmente bastava para driblar a convocação, vez que os recrutadores faziam a busca no endereço cadastrado pelo Estado.

O novo sistema estudado pelo governo consiste na entrega de uma mensagem digital a um endereço de e-mail cadastrado pelo cidadão. O aviso seria considerado entregue no momento do envio, com penas impostas àqueles que não atendessem à convocação. Uma das punições seria a proibição de viagens ao exterior, tornando o desertor um criminosos procurado domesticamente.

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