‘Saia antes que seja tarde’, diz Nobel Svetlana Alexievitch a Lukashenko

Para escritora, que levou prêmio em 2015, país pode acabar em guerra civil caso presidente há 26 anos não deixe cargo

A escritora bielorrussa Svetlana Alexievitch, que levou o prêmio Nobel de literatura em 2015, aconselhou o presidente Alexander Lukashenko a deixar o cargo “antes que seja tarde”.

O conselho da crítica de longa data ao governante foi oferecido em entrevista à “Rádio Free Europe” nesta quarta (12). A alternativa de Lukashenko, diz a escritora, é “o abismo da guerra civil”.

“Ninguém quer sangue. Só você quer poder. E seu desejo por poder exige sangue”, afirmou Alexievitch, primeira agraciada com o Nobel por Belarus.

"Saia antes que seja tarde", diz Nobel Svetlana Alexievitch a Lukashenko
A escritora Svetlana Alexievitch na Flip, feira de literatura em Paraty (RJ), em 2016 (Foto: Wikimedia Commons/Tomaz Silva)

Desde o início dos protestos, após as eleições consideradas fraudadas do último domingo (9), a população tomou as ruas das principais cidades do país. “Ninguém vê aqueles que amam Lukashenko por aí, aqueles que o apoiam da forma como o faziam no passado.”

Protestos pelo país

Lukashenko, no poder desde 1994, alega ter vencido o pleito com 80% dos votos. Cerca de seis mil pessoas foram presas e duas morreram nas manifestações.

A candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, fugiu para a Lituânia pedindo que as pessoas deixem as ruas e afirma: “Deus impeça que vocês tenham que fazer a escolha que fiz”. Especula-se que a ex-professora tenha sofrido ameaças, segundo o jornal britânico “The Guardian“.

A alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, condenou a supressão das manifestações no país e pediu que “as angústias das pessoas sejam ouvidas”.

“Autoridades do Estado devem permitir e facilitar o exercício dos direitos de liberdade de expressão e assembleia pacífica, não reprimi-los. As pessoas precisam ter o direito de falar e expressar desavenças, ainda mais em um contexto eleitoral”, afirmou Bachelet, em comunicado.

Para Alexievitch, cuja carreira começou no jornalismo e a levou a se tornar um grande nome da história oral, há dúvidas a respeito da origem dos soldados da polícia especial, OMON, que têm agido com violência nas ruas.

“Vemos uma fúria satânica, quase desumana, com a qual a OMON age aqui e é difícil acreditar que sejam bielorrussos”, afirmou. “Nas cidades pequenas, onde todos se conhecem, a OMON se recusa a bater nas pessoas. Mas aqui [na capital Minsk] uma coisa surreal está acontecendo.”

Alexievitch é autora de livros como “Vozes de Tchernóbil” (Companhia das Letras, 384 págs., 2016) e “O fim do homem soviético” (Companhia das Letras, 600 págs., 2016), nos quais usa técnicas de história oral para contar a derrocada do regime soviético.

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