A escritora bielorrussa Svetlana Alexievitch, que levou o prêmio Nobel de literatura em 2015, aconselhou o presidente Alexander Lukashenko a deixar o cargo “antes que seja tarde”.
O conselho da crítica de longa data ao governante foi oferecido em entrevista à “Rádio Free Europe” nesta quarta (12). A alternativa de Lukashenko, diz a escritora, é “o abismo da guerra civil”.
“Ninguém quer sangue. Só você quer poder. E seu desejo por poder exige sangue”, afirmou Alexievitch, primeira agraciada com o Nobel por Belarus.
Desde o início dos protestos, após as eleições consideradas fraudadas do último domingo (9), a população tomou as ruas das principais cidades do país. “Ninguém vê aqueles que amam Lukashenko por aí, aqueles que o apoiam da forma como o faziam no passado.”
Protestos pelo país
Lukashenko, no poder desde 1994, alega ter vencido o pleito com 80% dos votos. Cerca de seis mil pessoas foram presas e duas morreram nas manifestações.
A candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, fugiu para a Lituânia pedindo que as pessoas deixem as ruas e afirma: “Deus impeça que vocês tenham que fazer a escolha que fiz”. Especula-se que a ex-professora tenha sofrido ameaças, segundo o jornal britânico “The Guardian“.
A alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, condenou a supressão das manifestações no país e pediu que “as angústias das pessoas sejam ouvidas”.
“Autoridades do Estado devem permitir e facilitar o exercício dos direitos de liberdade de expressão e assembleia pacífica, não reprimi-los. As pessoas precisam ter o direito de falar e expressar desavenças, ainda mais em um contexto eleitoral”, afirmou Bachelet, em comunicado.
Para Alexievitch, cuja carreira começou no jornalismo e a levou a se tornar um grande nome da história oral, há dúvidas a respeito da origem dos soldados da polícia especial, OMON, que têm agido com violência nas ruas.
“Vemos uma fúria satânica, quase desumana, com a qual a OMON age aqui e é difícil acreditar que sejam bielorrussos”, afirmou. “Nas cidades pequenas, onde todos se conhecem, a OMON se recusa a bater nas pessoas. Mas aqui [na capital Minsk] uma coisa surreal está acontecendo.”
Alexievitch é autora de livros como “Vozes de Tchernóbil” (Companhia das Letras, 384 págs., 2016) e “O fim do homem soviético” (Companhia das Letras, 600 págs., 2016), nos quais usa técnicas de história oral para contar a derrocada do regime soviético.