Sanções contra a frota sombra criam dificuldades para a Rússia exportar petróleo

Tesouro dos EUA sancionou 183 embarcações controladas por Moscou, enquanto a UE e o Reino Unido adicionaram mais 140 à lista

As sanções impostas por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia (UE) vêm apertando o cerco contra a frota sombra da Rússia, composta por navios antigos e sem seguro usados para driblar restrições internacionais. Em janeiro, o Departamento do Tesouro norte-americano sancionou 183 embarcações controladas por Moscou, enquanto os britânicos e o bloco europeu adicionaram mais de 140 à lista de restrições. As medidas buscam enfraquecer a economia russa e limitar os recursos disponíveis para a guerra contra a Ucrânia, segundo o site Business Insider.

Para evitar as sanções e continuar transportando petróleo, a frota sombra recorre a táticas como desligamento do sistema de identificação automática (AIS), falsificação de localização e transferências de carga entre embarcações. No entanto, além do bloqueio imposto pelo Ocidente, os navios russos enfrentam outro desafio: um número crescente de países está cancelando os registros dessas embarcações. Somente Barbados e Panamá descredenciaram mais de cem navios sancionados.

“Esses navios perderam o direito legal de operar sob essas jurisdições, o que os torna menos propensos a acessar portos internacionais ou serviços de seguro”, afirmou Petras Katinas, analista de energia do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo.

Navio petroleiro russo na península de Kola, na costa do Mar de Barents (Foto: GRID-Arendal/Flickr)

Para entrar em portos internacionais, embarcações precisam de uma bandeira válida, seguro e certificação de segurança. Sem essas condições, os petroleiros russos são obrigados a mudar de registro frequentemente. “Isso é um jogo de ‘acertar o alvo’. Os navios da frota sombra da Rússia vão para qualquer bandeira aleatória que os aceite”, disse Ami Daniel, CEO da empresa de inteligência marítima Windward.

A Rússia utiliza essa tática para contornar o teto de preço de US$ 60 por barril imposto pelo G7 desde dezembro de 2022. Entre os registros mais utilizados pela frota sombra estão os de Panamá, Libéria, Ilhas Marshall e Malta. No entanto, diante das sanções, algumas embarcações antes registradas em Barbados já passaram para bandeiras de Tanzânia e São Tomé e Príncipe, segundo o banco de dados marítimo Equasis.

O impacto das sanções já é perceptível. As medidas têm sido “muito eficazes” em retirar os navios da frota sombra das operações comerciais, de acordo com Benjamin Hilgenstock, economista sênior da Escola de Economia de Kiev. Segundo ele, compradores de petróleo, bancos envolvidos nas transações e autoridades portuárias temem sofrer represálias caso negociem com embarcações sancionadas.

A restrição crescente pode ter efeitos significativos sobre a economia russa. Petróleo e gás estão entre as principais fontes de receita do Kremlin, representando cerca de 30% do orçamento federal russo em 2024, segundo o vice-primeiro-ministro Alexander Novak. No entanto, o volume de exportação já começou a cair: em novembro, a receita russa com petróleo recuou US$ 1,1 bilhão, chegando a US$ 14,6 bilhões, conforme levantamento da Escola de Economia de Kiev.

Além disso, a repressão à frota sombra provocou aumento nos custos de transporte, o que levou grandes compradores, como China e Índia, a suspenderem aquisições de petróleo russo para março. Embora esses países continuem a importar grandes volumes da commodity, as sanções secundárias dos EUA começam a afetar as decisões de compra.

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