Sem um final à vista para a guerra, Ucrânia diz que precisa de 500 mil novos soldados

Líderes militares ucranianos pediram a governo que o efetivo seja ampliado, mas Kiev não tem um plano para atender à demanda

A Ucrânia não consegue ver o final da guerra contra a Rússia no horizonte, e a perspectiva de um conflito prolongado deve forçar o país a ampliar o efetivo de suas Forças Armadas. Os líderes militares ucranianos deixaram isso claro nos últimos dias, ao solicitarem ao presidente Volodymyr Zelensky o recrutamento de algo entre 450 mil e 500 mil novos combatentes, segundo informou a rede BBC.

O pedido pela ampliação do efetivo foi revelado pelo próprio Zelensky na terça-feira (19), durante uma entrevista coletiva. Segundo ele, entretanto, não existe um plano em andamento para atender à demanda e nem é certo que ela será suprida, por se tratar de uma questão “delicada” e de um processo muito caro.

“Preciso de detalhes. O que acontecerá com o exército de um milhão de soldados da Ucrânia? O que acontecerá com aqueles caras que defendem nosso Estado há dois anos? Temos questões de rotação e férias. Deve ser um plano abrangente”, afirmou o presidente.

Em um primeiro momento, o que Zelensky tirou da mesa foi a proposta para mobilizar mulheres, algo que, segundo ele, está fora de cogitação. Também não passa pela cabeça do presidente a possibilidade de perder a guerra no futuro próximo. Perguntado se considera esse risco real, ele foi objetivo: “Não.”

O líder ucraniano, Volodymyr Zelensky: exército esgotado (Foto: Governo da Ucrânia/Divulgação)
Exércitos esgotados

A necessidade de buscar novos combatentes não é uma exclusividade da Ucrânia. Na verdade, até então era a Rússia que parecia mais afetada pelo problema, tendo inclusive iniciado em setembro de 2022 uma mobilização que, de acordo com o presidente Vladimir Putin, adicionou 300 mil novos combatentes a suas fileiras e foi encerrada.

A questão, entretanto, está longe de ter sido solucionada. No dia 1º de dezembro, Putin ordenou mais uma vez que o contingente militar do país seja ampliado, agora em 170 mil combatentes, de acordo com a agência Associated Press (AP).

Decreto assinado pelo líder diz que a Rússia deve aumentar o número de militares ativos para 2,2 milhões, sendo 1,32 milhão de soldados. E mesmo essa ampliação pode ser insuficiente, considerando que em dezembro de 2022 o ministro da Defesa Sergei Shoigu sugeriu que seriam necessários 1,5 milhão de soldados para as tropas russas manterem a efetividade.

Para atingir suas metas, o Ministério da Defesa alegou, segundo a AP, que não haverá uma “expansão significativa da mobilização” iniciada em setembro e que o aumento do afetivo acontecerá gradualmente com a adição de voluntários. Uma justificativa questionável, vez que o recrutamento voluntário segue aberto e não vem sendo capaz de atingir quaisquer das metas citadas.

Guerra longa

Na coletiva desta semana, Zelensky falou ainda sobre a perspectiva de encerramento da guerra. E não foi nada otimista ao ser questionado se espera que isso ocorra em 2024. “Ninguém sabe a resposta”, disse ele, segundo o jornal The Moscow Times. “Mesmo pessoas respeitadas, nossos comandantes e nossos parceiros ocidentais, que dizem que esta é uma guerra de muitos anos, eles não sabem.”

Para sustentar um conflito como este, no entanto, não bastam homens. É preciso dinheiro. E isso tem se tornado um problema para Kiev, que vê seus mais importantes parceiros se distanciando.

A Europa vive indefinição protagonizada pela Hungria e seu primeiro-ministro, Viktor Orbán, mais importante aliado de Putin no continente. Na semana passada, durante cúpula envolvendo ministros das Relações Exteriores dos países-membros da União Europeia (UE), Budapeste vetou a proposta de abrir um fundo especial adicional de 50 bilhões de euros em apoio financeiro a Kiev.

A situação é igualmente delicada nos EUA, onde a oposição republicana torna-se cada vez mais ativa ao contestar a ajuda a Kiev e conseguiu vetar um pacote de US$ 60 bilhões que não seria destinado somente à Ucrânia, mas também a Israel e Taiwan.

Para apoiar os democratas nesse sentido, os republicanos exigem contrapartidas do presidente Joe Biden em questões diversas, como imigração e segurança de fronteiras. O impasse pode vir a ser solucionado, mas a queda de braços entre os dois grandes partidos norte-americanos no que tange à guerra persistirá.

Zelensky, por sua vez, diz que pretende atuar nas duas frentes para solucionar os impasses. Falou em organizar uma reunião com Orbán para “encontrar soluções” e, no caso norte-americano, apenas manifestou otimismo de que uma alternativa surgirá: “Estou confiante de que os Estados Unidos não nos trairão”, disse ele.

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