Separatistas da Moldávia pedem ajuda à Rússia, que acusa Otan de ‘moldar outra Ucrânia’

Rebeldes se dizem ameaçados pelo governo moldavo e recebem aceno de Moscou, que tem cerca de 1,5 mil soldados na região

O governo separatista da Transnístria, região da Moldávia que declarou independência em 1992, pediu ajuda à Rússia para conter o que, segundo eles, é uma “politica de genocídio” contra a população local, que alega incluir centenas de milhares de russos. Moscou acenou positivamente, dizendo que proteger seus “compatriotas” é uma “prioridade” do presidente Vladimir Putin.

O Congresso de Deputados da Transnístria realizou uma sessão especial na quarta-feira (28), evento raro que havia ocorrido pela última vez em 2006. Naquela oportunidade, há 18 anos, o órgão pediu que a Transnístria fosse anexada pela Rússia, mas não foi atendido. O pedido de anexação, porém, não foi repetido nesta quarta, segundo o jornal The New York Times.

Na sessão mais recente, Vadim Krasnoselsky, que governa o enclave, afirmou que uma “política de genocídio está sendo aplicada contra a Transnístria”, acrescentando que “mais de 220 mil cidadãos russos residem permanentemente na região.” E então solicitou o apoio de Moscou, sem deixar claro qual tipo de ajuda espera receber.

Tiraspol, segunda maior cidade da Moldávia e capital extraoficial da Transnístria (Foto: Pavel Karafiát/Flickr)

Em seu discurso, Krasnoselsky explicou que a “política genocida” do governo central da Moldávia, liderado pela presidente Maia Sandu, tem quatro diretrizes: estrangulamento econômico, destruição física de parte da população, negação de proteção legal e tentativa de implantação forçada da língua, conforme relatou a agência russa RIA Novosti.

Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que “proteger os interesses dos residentes da Transnístria, nossos compatriotas, é uma das prioridades”, de acordo com a agência russa Interfax. Mas não explicou como agirá.

Nova Ucrânia

Desde a declaração de independência, a Rússia mantém uma força militar no enclave, que foi diminuindo com o tempo e hoje é de cerca de 1,5 mil soldados. Sandu vem insistindo, sem sucesso, para que eles deixem a região, conforme o país teme uma invasão russa nos moldes do que ocorreu com a Ucrânia.

A própria porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, traçou um paralelo entre Chisinau e Kiev ao comentar o pedido de ajuda. Ela culpou o Ocidente pela crise na Moldávia, alegando que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) está tentando “moldar outra Ucrânia”, processo que, segundo disse, é “contrário às atitudes da maioria da população moldava.”

Tensão militar

A situação militar para a Rússia não é simples. Desde o início da guerra da Ucrânia, suas tropas na Moldávia deixaram de receber equipamentos e alimentos de Moscou através do porto ucraniano de Odessa, segundo o The New York Times. Também pesa a distância entre a região e o território russo, com toda a Ucrânia os separando. Assim, o único acesso ao enclave é através da Moldávia.

O pesadelo logístico que seria para a Rússia uma invasão do território moldavo talvez ajude a explicar a reação comedida do Kremlin, a ponto de o deputado Aleksei Chepa dizer que os separatistas na verdade querem ajuda econômica, não militar.

Ainda assim, Chisinau age de forma preventiva. Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Moldávia vem aumentando os gastos militares, temerosa de ter o mesmo destino de Kiev. O parlamento local aprovou uma medida que oficialmente amplia em quase 70% o orçamento de Defesa, dinheiro que será investido sobretudo em sistemas antiaéreos. E, em dezembro de 2023, as Forças Armadas realizaram um exercício militar nas proximidades da região separatista.

De acordo com Sandu, que no final do ano passado se manifestou pelo Facebook por ocasião das manobras militares, há atualmente duas grandes ameaças à segurança nacional da Moldávia. Uma delas é a corrupção. A outra, a “política agressiva da Federação Russa contra o nosso país e contra a paz em geral.”

Tags: