Começa em Haia primeiro julgamento por crimes de guerra no conflito do Kosovo

Entre os réus estão um ex-comandante da guerrilha separatista albanesa e o ex-presidente do país

Começou nesta quarta-feira (15) o julgamento de um ex-comandante da guerrilha separatista albanesa acusado de crimes de guerra cometidos durante o conflito pela independência de Kosovo, informou a agência catari Al Jazeera. É o primeiro processo que investiga violações entre 1998 e 1999 na região da dissolvida Iugoslávia no tribunal especial de Haia, na Holanda.

Salih Mustafa, ex-comandante do Exército de Libertação do Kosovo (UCK), responde por crimes de guerra como detenção arbitrária, tratamento cruel, tortura e assassinato durante o confronto que envolveu a Sérvia e os separatistas da antiga província iugoslava.

Logo na abertura do julgamento, Mustafa comparou o tribunal à polícia secreta da Alemanha nazista. “Não sou culpado de nenhuma das acusações trazidas aqui perante mim por este escritório da Gestapo”, disse o acusado, de 49 anos.

Salih Mustafa, ex-comandante do Exército de Libertação do Kosovo (UCK), comparou o tribunal à Gestapo (Foto: Kosovo Specialist Chambers/Reprodução Twitter)

O ex-líder do UCK está preso há um ano no território autônomo na península dos Bálcãs, de onde foi enviado à Holanda para ser julgado nas Câmaras de Especialistas em Kosovo, apoiadas pela União Europeia (UE).

Os promotores do caso relataram que Mustafa e seus homens “brutalizaram e torturaram” outros albaneses de Kosovo, a quem acusaram de colaborar com os sérvios em Zllash, um vilarejo a leste da capital Pristina.

“Eles não eram inimigos de Kosovo, não eram espiões. O único crime que cometeram foi ter pontos de vista políticos diferentes dos do UCK e seus líderes”, disse o promotor Jack Smith ao tribunal.

Ex-presidente entre os réus

Entre outros ex-comandantes rebeldes em detenção e à espera de julgamento está o antigo presidente do Kosovo Hashim Thaci, acusado de crimes de guerra e contra a humanidade. Ele renunciou ao cargo no ano passado para se defender das acusações em Haia.

Promotores afirmam que o político assassinou cerca de 100 civis quando era líder de tropas do Kosovo que pediam independência à Sérvia, entre 1998 e 1999. O tribunal também acusa Thaci de chefiar um grupo de perseguição a oponentes, que praticou sequestros e tortura.

A maioria das pessoas que perdeu a vida na guerra de Kosovo eram albaneses étnicos. Uma campanha aérea da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de 78 dias contra as tropas sérvias deu fim ao conflito.

Por que isso importa?

Sérvia e Kosovo mantêm péssimas relações desde a guerra travada no fim dos anos 1990 e que separou o território. Após sua declaração unilateral de independência de Belgrado, em 2008, Kosovo hoje tem o reconhecimento dos EUA e da UE. Sérvia e Rússia ainda reconhecem o território como sérvio.

Em maio, um documento diplomático anônimo sugeriu acordo entre Sérvia e Kosovo. A publicação delineou possíveis termos de acordo entre os dois países, que disputam território kosovar, até 2022.


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