Soldado russo julgado por crime de guerra se declara culpado em Kiev

Vadim Shishimarin, de 21 anos, admitiu ter atirado em um civil ucraniano desarmado sob ordens no dia 28 de fevereiro

O sargento do exército russo Vadim Shishimarin, primeiro militar a encarar um processo por crime de guerra após quase três meses de conflito na Ucrânia, se declarou culpado à Justiça ucraniana nesta quarta-feira (18), em Kiev. As informações são da rede Radio Free Europe.

Ao ser questionado pelo tribunal se era culpado pela morte de um civil ucraniano de 62 anos desarmado no dia 28 de fevereiro – quatro dias após o início da guerra –, no vilarejo de Chupakhivka, na região nordeste de Sumy, a resposta do jovem militar de 21 anos foi “sim”.

Shishimarin, que integrava uma unidade de tanques, declarou em um vídeo divulgado pelo SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia) que recebeu ordens para atirar no homem. “Eu dei um tiro nele. Ele caiu. E nós continuamos”, disse no depoimento.

Vadim Shishimarin (de cabeça baixa à esquerda), alega ter agido sob ordens de superiores (Foto: Twitter/Reprodução)

A procuradora-geral Iryna Venediktova disse ter identificado em abril dez soldados russos suspeitos de “crueldade contra civis e outros crimes de guerra”. O governo da Ucrânia divulgou uma lista contendo os nomes dos militares, todos acusados de atrocidades na cidade de Bucha, onde dezenas de corpos foram encontrados após a saída das tropas da Rússia

O gabinete da procuradora-geral também revelou que trabalha na investigação de mais de 11 mil potenciais crimes de guerra, envolvendo mais de 600 suspeitos. Entre eles estão soldados russos e funcionários do Kremlin. Os nomes que constam na lista seriam apenas os primeiros.

O massacre de Bucha

A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Civis mortos nas ruas de Bucha cidade ucraniana (Foto: reprodução/Twitter)

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.

Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.

“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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