Suíça acusa Rússia de manter dezenas de espiões no país disfarçados de diplomatas

Enquanto países da América do Norte e da Europa expulsaram centenas de agentes russos, o governo suíço não se movimentou

A Rússia tem dezenas de espiões ativos na Suíça, atuando sob o disfarce da diplomacia na embaixada russa em Berna e no escritório da ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra. A informação consta do relatório anual divulgado nesta semana pelo Serviço de Inteligência da Confederação (NDB na sigla em alemão), cujo conteúdo foi reproduzido pela agência Associated Press (AP).

Diz o documento que a Suíça não acompanhou o avanço de outras nações ocidentais no combate às ações de espionagem russas. Enquanto países da América do Norte e outros da Europa expulsaram centenas de espiões escondidos sob o disfarce diplomático, o governo suíço não se movimentou.

Prédio do consulado da Rússia em Berna, na Suíça (Foto: WikiCommons)

“Em toda a Europa, a Suíça é um dos Estados em que a maioria do pessoal de inteligência russo está implantado sob cobertura diplomática, inclusive devido ao seu papel como país anfitrião de organizações internacionais”, disse o relatório.

Pelas contas do NDB, há atualmente cerca de 220 pessoas credenciadas como diplomatas ou funcionários técnico-administrativos nas representações diplomáticas da Rússia na Suíça, um terço deles atuando a serviço das agências de inteligência russas.

Embora cite também a China como uma ameaça, o documento diz que a abordagem de Beijing é diferente. Em vez de infiltrar espiões disfarçados de diplomatas, o regime comunista usa cientistas, jornalistas e empresários para coletarem informações de inteligência.

Combate à espionagem russa

As atividades de espionagem russas na Europa sofreram um duro golpe nos últimos anos. Episódios como o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal, no Reino Unido, levaram as nações do continente a fecharem o cerco contra Moscou, repressão que aumentou ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Nos últimos anos, centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus sob a acusação de que vinham atuando como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro do ano passado que mais de 600 russos foram obrigados a deixar países europeus nessas condições.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou (o presidente russo Vladimir) Putin de surpresa.”

Somente no Reino Unido, mais de cem pedidos de vistos diplomáticos feitos por Moscou foram rejeitados desde 2018, quando o Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra. A inteligência russa foi acusada de coordenar a ação, embora Moscou até hoje negue envolvimento.

assassinato do homem (a filha sobreviveu) comprometeu as relações diplomáticas entre os governos britânico e russo e levou à primeira onda de expulsões de diplomatas suspeitos de atuarem como espiões. De lá para cá, diversos países europeus também detectaram membros do corpo diplomático russo que exerciam atividades incompatíveis com suas funções e igualmente os forçaram a ir embora.

Outro país que iniciou uma dura campanha de combate à espionagem russa foi a Alemanha, que no ano passado registrou um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou no país. Nesse sentido, relatório divulgado na semana passada pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico, destaca as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Nos últimos anos, para conter o problema, o governo alemão também expulsou dezenas de supostos diplomata russos acusados de atuarem como espiões disfarçados. No final de maio deste ano, Berlim ainda anunciou que quatro dos cinco consulados da Rússia no país teriam suas licenças revogadas, sendo, portanto, fechados.

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