Tensões crescem no Mar Báltico, palco da disputa entre a Otan e seus adversários

Rupturas de cabos submarinos de energia e dados expõem vulnerabilidades críticas e reacenderam temores de uma guerra híbrida

As águas rasas do Mar Báltico, tradicionalmente importantes para o comércio e a navegação, tornaram-se palco de uma disputa geopolítica intensa entre o Ocidente e o Oriente. Recentes cortes em cabos submarinos de energia e dados expuseram vulnerabilidades críticas e reacenderam temores de uma guerra híbrida. As informações são do site Defense News.

Em novembro, dois cabos que conectavam a Alemanha à Finlândia e a Lituânia à Suécia foram danificados. Autoridades rapidamente sugeriram sabotagem. Boris Pistorius, ministro da Defesa da Alemanha, declarou que “não há quem acredite que esses cabos foram cortados acidentalmente” e reforçou: “Temos que assumir, é sabotagem”.

Pouco depois, navios armados de vários países bálticos abordaram o cargueiro chinês Yi Peng 3, suspeito de causar os danos. O navio, que vinha de portos russos, apresentava danos no casco e na âncora, sugerindo que arrastou intencionalmente equipamentos no fundo do mar.

“A resposta rápida dos países bálticos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) demonstra que a estratégia de vigilância está funcionando”, avaliou Christian Bueger, especialista em segurança marítima da Universidade de Copenhague.

Navios de combate a minas da Otan no Mar Báltico (Foto: Brian Djurslev/picryl.com/Creative Commons)

A China negou qualquer envolvimento oficial e se dispôs a colaborar com as investigações. No entanto, a proximidade dos navios chineses com interesses russos levanta suspeitas. Em 2023, outro cargueiro chinês, o Newnew Polar Bear, causou danos similares a um gasoduto e cabos na região.

Para Erik Kannike, consultor de defesa na Estônia, “as conexões entre os navios chineses e interesses russos são evidentes, especialmente pelo histórico das tripulações e contratos”.

O Mar Báltico tem importância estratégica crescente, especialmente após a entrada da Finlândia e da Suécia na Otan. Apesar de sua denominação como “lago da Otan” por analistas ocidentais, a Rússia mantém posições-chave na região, como Kaliningrado, que abriga a Frota do Báltico da Marinha russa, e São Petersburgo, centro econômico crucial.

Para Moscou, a capacidade de interromper infraestruturas críticas do Ocidente sem um conflito direto torna a guerra híbrida uma ferramenta atraente.

“Proteger milhares de quilômetros de cabos submarinos é praticamente impossível”, explicou Basil Germond, especialista em segurança naval da Universidade de Lancaster. A solução, segundo ele, é investir em redundância e dissuasão.

Enquanto isso, a Otan reforça sua presença no Mar Báltico. Em setembro, foi inaugurado um centro de comando naval em Rostock, Alemanha, para monitorar a região e coordenar atividades marítimas. Apesar das críticas russas, Pistorius afirmou que a medida é essencial para garantir que “Putin não terá o que quer”.

Com as tensões persistindo e a infraestrutura submarina cada vez mais visada, o Mar Báltico emerge como um microcosmo das disputas globais entre grandes potências. “Com a tecnologia de vigilância ainda permitindo que ataques à infraestrutura do fundo do mar passem despercebidos, mais incidentes testando as águas podem ser apenas uma questão de tempo”, diz a reportagem.

Tags: