Ucrânia acusa ex-presidente Poroshenko de traição por se associar a separatistas

Político é suspeito de "facilitar as atividades" de organizações terroristas em uma conspiração que inclui altos funcionários da Rússia

A Ucrânia abriu uma investigação contra o ex-presidente Petro Poroshenko por alta traição, na segunda-feira (20). Ele é acusado de ajudar no financiamento de forças separatistas apoiadas pela Rússia que enfrentam o exército ucraniano na região oriental de Donbass, segundo informações da agência Reuters.

As autoridades alegam que o caso de Poroshenko está relacionado a acusações semelhantes feitas contra o legislador pró-Rússia Viktor Medvedchuk, que está em prisão domiciliar há cerca de seis meses na Ucrânia. Os partidos políticos dos dois acusados negam qualquer irregularidade.

Poroshenko é suspeito de “facilitar as atividades” de organizações terroristas em uma conspiração com um grupo anônimo de pessoas, entre elas altos funcionários do Kremlin. Já Medvedchuk foi acusado de comprar carvão de grupos separatistas em 2014 e 201,5 como forma de financiar tais grupos na guerra separatista de Donbass.

Oleksander Turchynov, um oficial sênior do partido Solidariedade Europeia, de Poroshenko, disse em comunicado que a acusação foi inventada por ordem do presidente Volodymyr Zelensky e que “se tornaria uma farsa como todas as anteriores”.

Medvedchuk, cujo partido político é o segundo maior no parlamento da Ucrânia, é cidadão ucraniano, mas tem laços estreitos com o presidente russo Vladimir Putin, que ele diz ser padrinho de sua filha.

Petro Poroshenko, ex-presidente da Ucrânia (Foto: Wikimedia Commons)

Por que isso importa?

A Rússia apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass.

O conflito fez aumentar a tensão entre os dois países, que já era alta desde a anexação da Crimeia pela Rússia. Em 2021, a situação ficou especialmente delicada, com a ameaça de uma invasão russa à Ucrânia.

Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

Especialistas calculam que a Rússia tenha entre 70 mil e 100 mil soldados nas proximidades da Ucrânia, sendo necessária uma força de 175 mil para invadir, além de mais combustível e munição. Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam o país vizinho pela Crimeia e por Belarus.

Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, se isso ocorrer, as tropas russas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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