O aplicativo de mensagens russo Telegram teve sua instalação e uso proibidos pela Ucrânia em aparelhos governamentais. Kiev diz que a medida se faz necessária para proteger informações confidenciais e, consequentemente, a segurança nacional. As informações são da agência Associated Press (AP).
Em sua justificativa, o governo ucraniano afirmou que o aplicativo é usado frequentemente por Moscou para fins maliciosos diversos, como realizar ataques cibernéticos, disseminar vírus, determinar a localização de usuários de interesse do governo russo e até guiar ataques de mísseis.
A proibição vale para todos os aparelhos usados por funcionários e colaboradores do governo, o que inclui membros das Forças Armadas, pessoas que trabalham nos setores de defesa e segurança e também para quem atua no setor de infraestrutura crítica ucraniano. Somente haverá exceções concedidas àqueles que usam o Telegram como ferramenta indispensável de trabalho.
“O Telegram é usado ativamente pelo inimigo para ataques cibernéticos, distribuição de phishing e software malicioso, geolocalização de usuários e correção de ataques de mísseis”, disse na sexta-feira (20) o Conselho de Segurança Nacional e Defesa (Rnbo, na sigla em ucraniano), segundo relatou a rede BBC.
Mais que um aplicativo de mensagens, o Telegram é para os ucranianos uma fonte de informação. Através de seus canais, organizações e indivíduos divulgam conteúdo jornalístico e mantêm contato com seu público-alvo. O próprio presidente do país, Volodymyr Zelensky, tem um grupo no qual dialoga com a população do país.
Embora seja globalmente tratado como um programa seguro, o chefe de inteligência da Ucrânia, Kyrylo Budanov, alega que os serviços de inteligência da Rússia são capazes de acessar as mensagens pessoais dos usuários do Telegram, mesmo aquelas que foram excluídas. Os dados pessoais dos cadastrados, diz ele, estão igualmente ao alcance de Moscou.
Ataque via Telegram
Curiosamente, quem já usou o Telegram para coordenar um ataque foi o próprio governo ucraniano. Em agosto de 2022, uma foto publicada por um jornalista russo no aplicativo de mensagens teria ajudado Kiev a identificar um esconderijo do Wagner Group, organização paramilitar russa bastante ativa no início do conflito.
A base dos mercenários, na cidade de Popasna, leste da Ucrânia, teria sido atingida pelas forças de Kiev usando o Sistema de Artilharia de Foguetes de Alta Mobilidade (HIMARS, na sigla em inglês) fornecido pelos EUA. Para localizar a base, a Ucrânia teria se valido de um descuido do jornalista russo Sergei Sreda, um correspondente de guerra pró-Kremlin que cobre o conflito no campo de batalhas.
No Telegram, ele teria publicado uma foto em que aparece ao lado de quatro indivíduos com uniformes militares, supostamente combatentes da organização mercenária. Ocorre que, no lado superior esquerdo da foto, era possível ver uma placa com o nome da rua, Mironovskaya 12. Kiev usou tal informação para bombardear as instalações.