União Europeia fala em ‘enorme crime de guerra’ nos ataques aéreos contra a cidade de Mariupol

"Estão destruindo tudo, bombardeando e matando todo mundo", afirmou nesta segunda (21) Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia

A União Europeia (UE) fez mais uma acusação de crimes de guerra contra as forças da Rússia na invasão da Ucrânia. E novamente em Mariupol, cidade portuária cercada por tropas russas que exigem a rendição da Ucrânia, exigência prontamente rejeitada por Kiev. As informações são da rede Radio Free Europe.

“O que está ocorrendo agora em Mariupol é um enorme crime de guerra, destruindo tudo, bombardeando e matando todo mundo”, disse Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, que se manifestou no início de uma reunião dos ministros das Relações Exteriores do bloco, em Bruxelas, nesta segunda-feira (21).

Alvo de constantes bombardeios russos, Mariupol sofre atualmente com a falta de suprimentos básicos, como água, comida e combustível. Autoridades locais afirmam que ao menos 2,3 mil pessoas morreram durante os ataques à cidade, que antes da guerra tinha uma população de cerca de 400 mil habitantes.

Foto publicada por Roman Skliarov mostra o que seria um prédio residencial destruído em Mariupol, na Ucrânia (Foto: reprodução/Twitter)

A mais recente denúncia de ataque a instalações civis em Mariupol dizem respeito a uma escola de arte que abrigava cerca de 400 pessoas. Através do aplicativo de mensagens Telegram, funcionários do governo local disseram que o edifício foi bombardeado e destruído, com a possibilidade de haver pessoas presas nos escombros.

Outros dois ataques semelhantes em Mariupol haviam sido atribuídos aos russos, levando a acusações de crimes de guerra inclusive por parte do presidente norte-americano Joe Biden. Primeiro, o bombardeio de uma maternidade, depois o ataque a um ataque a um teatro que seria usado por civis como abrigo.

Terceira Guerra Mundial

Em meio aos inclementes ataques aéreos russos, a vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, rejeitou nesta segunda (21) as exigências russas para um cessar-fogo e exigiu a abertura de corredores humanitários para a evacuação de civis.

“Não se pode falar em rendição, deposição de armas. Já informamos o lado russo sobre isso”, disse ela ao jornal ucraniano Pravda, declaração reproduzida pela rede Voice of America (VOA).

Segundo Vereshchuk, 3.985 pessoas foram evacuadas de Mariupol no domingo (20), com destino à cidade de Zaporizhzhya, a cerca de 225 quilômetros de distância. Ela ainda afirmou que quase 50 ônibus eram esperados na cidade nesta segunda (21) para dar sequência à retirada de civis.

O coronel-general russo Mikhail Mizintsev disse que permitiria dois corredores saindo de Mariupol, indo para leste, em direção à Rússia, ou para oeste, rumo a outras partes da Ucrânia, segundo a agência Associated Press.

Já o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu uma nova rodada de negociações com o homólogo russo Vladimir Putin. “Estou pronto para negociações com ele. Eu estava pronto nos últimos dois anos. E acho que sem negociações não podemos acabar com essa guerra”, disse o líder ucraniano à rede CNN, no domingo (20).

Na entrevista, Zelensky foi catastrófico ao projetar os efeitos de um eventual fracasso da diplomacia. “Acho que temos que usar qualquer formato, qualquer chance para ter uma possibilidade de negociação, possibilidade de falar com Putin. Mas, se essas tentativas falharem, isso significaria que esta é uma terceira guerra mundial”, afirmou.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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