Usina nuclear gera atrito entre Putin e um de seus maiores aliados, Lukashenko

Belarus cobra Rússia por atrasos no funcionamento da geradora de energia, que após três continua operando só parcialmente

Belarus passou a cobrar da Rússia uma indenização pelos atrasos na conclusão da obra e no início das operações da usina nuclear de Astravets, na região belarussa de Grodno. A obra, tocada e financiada por Moscou, teve uma série de problemas, levando Minsk a pressionar o aliado. As informações são da revista Newsweek.

A previsão inicial era de que a primeira usina nuclear de Belarus começasse a operar em 2020, prazo que foi diversas vezes adiado. Somente em 2022 a segunda unidade da estação entrou em funcionamento, e mesmo àquela altura não tinha capacidade de produzir toda energia planejada.

“Os prazos de comissionamento da usina nuclear mudaram ligeiramente por causa do lado russo”, disse Lukashenko, de acordo com a agência estatal de notícias BeITA. “Naturalmente, com base no contrato, levantamos a questão da compensação para eles. Não há necessidade de esconder isso.”

Encontro entre Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

O presidente reforçou a responsabilidade de Moscou. “Não houve nada de extraordinário ali. Mas tais questões foram levantadas devido ao fato de que os prazos para o comissionamento da usina foram violados e o lado russo é responsável por isso.”

Ainda segundo o presidente belarusso, a Rússia ofereceu “opções de compensação”, como a venda de energia a preços favoráveis. Lukashenko, entretanto, não pareceu muito animado com a oferta e deu a entender que a compensação financeira é mesmo a única alternativa.

“Tínhamos eletricidade suficiente e ainda temos o suficiente, mas um acordo é um acordo”, declarou o líder belarusso, reforçando que o contrato prevê o ressarcimento por parte de Moscou a Minsk em caso de atrasos.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

Entretanto, nos últimos meses os dois parceiros têm se distanciado consideravelmente no que tange a suas visões sobre o conflito. Em março, Lukashenko chegou a sugerir um cessar-fogo, dando a entender que a guerra havia ido além do que se imaginava quando da invasão russa em fevereiro de 2022.

“Devemos parar agora, antes que comece uma escalada. Correrei o risco de sugerir o fim das hostilidades. Uma declaração de trégua”, disse ele durante discurso aos cidadãos belarussos, cujo conteúdo foi reproduzido pela Newsweek.

Lukashenko, inclusive, chegou a convidar Putin e o presidente norte-americano Joe Biden para uma cúpula que debateria o fim da guerra, evento que jamais se materializou. “Todas as questões territoriais, de reconstrução, de segurança e outras podem e devem ser resolvidas na mesa de negociações, sem condições prévias”, declarou na ocasião.

A aliança, porém, sempre pareceu sólida, a ponto de o jornalista russo Konstantin Eggert sugerir, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW) em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos.

Segundo ele, isso “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Já o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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