COI adverte o Afeganistão por veto a mulheres e meninas nos esportes

O Comitê Olímpico Internacional questionou o status da equipe afegã nas Olimpíadas de Paris 2024 devido ao bloqueio do Taleban ao acesso ao esporte feminino

Na quarta-feira (21), o Comitê Olímpico Internacional (COI) levantou questionamentos sobre a presença da equipe do Afeganistão nos Jogos Olímpicos de Paris em 2024, devido à crescente frustração causada pelo Taleban, que impede mulheres e meninas de praticar esportes. A entidade expressou sua “extrema preocupação” com a situação esportiva no país do Oriente Médio e destacou o direito de tomar medidas adicionais. As informações são da agência Associated Press (AP).

A ida da equipe afegã aos Jogos ainda carece de detalhes específicos, o que abre espaço para possíveis consequências. Embora algumas garantias por escrito tenham sido recebidas, um funcionário do COI considera o progresso até o momento insuficiente.

O assunto foi discutido durante uma reunião do conselho executivo do COI, que abordou a possibilidade de suspender o corpo olímpico do Afeganistão devido à interferência do governo na gestão independente do esporte.

Atleta afegã nos Jogos Olímpicos de Tóquio (Foto: WikiCommons)

Por outro lado, o COI também manifestou apoio aos atletas afegãos, sugerindo a opção de competirem em Paris como uma equipe independente, utilizando a bandeira e o hino olímpicos. Essa abordagem já foi adotada no passado, como ocorreu com os atletas do Kuwait nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Além disso, a reunião do conselho executivo também tratou de questões relacionadas a autoridades olímpicas de Índia, Indonésia, Irã e Guatemala.

O Comitê Executivo do COI observou que as restrições que impedem mulheres e meninas de praticar esportes no Afeganistão estão em desacordo com os valores olímpicos de não discriminação, inclusão e respeito.

Como resultado, o comitê insta o Comitê Olímpico Nacional (NOC) afegão e a Diretoria de Educação Física e Esportes do Afeganistão a intensificarem e acelerarem drasticamente seus esforços junto às mais altas autoridades do país. “É esperado que sejam alcançados progressos significativos e resultados tangíveis em todos os níveis em um futuro próximo”, disse o COI.

Intimidação

Em janeiro, várias mulheres e meninas que já praticaram diferentes esportes relataram à AP terem sido intimidadas pelo Taleban. Elas receberam visitas e telefonemas que as alertavam para não continuar praticando esportes.

A situação do Afeganistão será discutida em outubro durante uma reunião do conselho do COI, que será realizada em Mumbai, na Índia. Essa discussão ocorrerá logo após os Jogos Asiáticos.

Na edição dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em agosto de 2021, o Afeganistão enviou uma equipe composta por cinco atletas, incluindo uma mulher. Pouco tempo depois, o Taleban retomou o controle do país.

Por que isso importa?

A vida das mulheres tem sido particularmente dura no Afeganistão. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um “ambiente seguro”.

Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas. Mulheres também foram proibidas de trabalhar para ONGs, medida que afetou inclusive a ajuda humanitária fornecida pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Há ainda um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

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