Após passar por uma prova de fogo neste ano demonstrando resistência, contrariando expectativas, a economia global enfrentará desafios em 2024 por conta de conflitos, inflação elevada e altas taxas de juros.
É o que aponta a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que prevê uma desaceleração no crescimento internacional, caindo de 2,9% em 2023 para 2,7% em 2024, marcando o avanço mais lento desde 2020, ano marcado pela pandemia de Covid-19. As informações são da agência Associated Press.
Apesar das notícias nada otimistas, o líder da OCDE, Mathias Cormann, disse que a organização projeta que a maioria dos países conseguirá evitar recessões. Mesmo assim, ele se diz preocupado com a possibilidade de a inflação continuar alta e os riscos ligados a conflitos, como o entre Israel e o Hamas, e a situação entre Moscou e Kiev, que, às vésperas de um segundo aniversário de guerra, podem afetar os preços de coisas como petróleo e grãos.
A desaceleração econômica prevista pela OCDE no próximo ano é influenciada pelo abrandamento das duas maiores economias mundiais, os Estados Unidos e a China. A organização projeta um crescimento norte-americano de apenas 1,5% em 2024, comparado a 2,4% em 2023, devido aos aumentos nas taxas de juros da Reserva Federal, que têm restringido o crescimento desde março de 2022, totalizando 11 aumentos.
Essas taxas mais altas tornaram empréstimos mais caros, desacelerando a inflação desde seu pico em 2022. A OCDE estima que a inflação nos EUA diminuirá de 3,9% em 2023 para 2,8% em 2024 e 2,2% em 2025, um pouco acima da meta de 2% do Fed – Sistema de Reserva Federal norte-americano, a instituição central de controle monetário do país.
A economia da China atravessa dificuldades, particularmente por conta de uma crise imobiliária, desemprego e diminuição nas vendas para outros países. Nesse cenário, a expectativa é que o crescimento seja de 4,7% em 2024, menos do que os 5,2% deste ano, segundo a OCDE.
As pessoas na China estão gastando menos porque estão guardando dinheiro, o emprego não está promissor e há mais incertezas, explicou a organização. Além disso, países europeus que usam o euro também estão contribuindo para a desaceleração global, devido a taxas de juro mais altas e preços da energia aumentados pela invasão russa na Ucrânia.
A OCDE espera que a economia da zona do euro cresça 0,9% no próximo ano, uma melhora discreta em relação aos 0,6% previstos para 2023. Clare Lombardelli, economista-chefe da OCDE, destacou que os EUA têm uma perspectiva mais forte em 2024, enquanto a Europa enfrenta uma previsão mais fraca. Isso ocorre devido ao aumento dos preços da energia na Europa após a Rússia cortar o fornecimento de gás natural, aumentando os custos para famílias e empresas, além de desafios para a Alemanha.
Queda na confiança
Desde 2020, a economia mundial vem numa travessia de desafios, incluindo a já citada pandemia de coronavírus, inflação, a invasão na Ucrânia e elevadas taxas de juro. Apesar disso, cresceu mais do que o esperado, superando as previsões pessimistas da OCDE para 2023. Agora, a organização avisa que essa fase de respiro pode ter terminado.
A expansão econômica em 2023 superou as expectativas, conforme destacado no extenso relatório de 221 páginas da OCDE. No entanto, está agora desacelerando devido aos efeitos das condições financeiras mais restritivas, ao crescimento do comércio mais lento e à diminuição da confiança tanto das empresas quanto dos consumidores.
A OCDE também alertou sobre novos riscos para a economia global devido ao aumento das tensões geopolíticas durante o conflito entre Israel e o Hamas, especialmente se o confronto se prolongar, o que causaria problemas sérios nos mercados de energia e nas rotas comerciais principais.