Do Oriente Médio à Europa, relembre os maiores ataques do Estado Islâmico na história

Grupo que se originou em meio ao caos da guerra no Iraque segue derramando sangue e espalhando medo, como em Moscou

Por André Amaral

Em 2011, dez anos após os atentados às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, a morte de Osama bin Laden foi como um bálsamo aos países que enfrentavam ataques da Al-Qaeda. No entanto, nas sombras do Iraque instável, uma ameaça ainda mais grave estava saindo do casulo. Em 2013, nascia o Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EI), que viria a dominar partes do Iraque e da Síria, levando terror mundo afora.

Na última década, o mundo testemunhou uma série de ataques devastadores coordenados pelo grupo extremista. Originado a partir das cinzas da insurgência iraquiana pós-invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003, o EI rapidamente se estabeleceu como uma das organizações terroristas mais temidas e prolíficas da história moderna.

O alvo mais recente dos jihadistas foi a casa de espetáculos Crocus City Hall, em Moscou, na última sexta-feira (22). O ataque teria sido perpetrado por quatro cidadãos do Tadjiquistão, que entraram no local com rifles automáticos e dispararam a esmo, matando mais de 140 pessoas. Ao tiroteio se seguiu um grande incêndio que destruiu parcialmente o auditório, onde aconteceria o show da banda Picnic, bastante popular nos tempos de União Soviética.

Em frente à embaixada francesa em Moscou, homenagem às vítimas do atentado de 2015 em Paris (Foto: Stolbovsky/WikiCommons)

Com uma ideologia extremista e uma brutalidade sem precedentes, o grupo deixou um rastro de destruição e sofrimento em todo o mundo. A Referência relembra alguns dos maiores ataques da organização, desde as ruas movimentadas de Paris até os corações das cidades do Oriente Médio, revelando a profundidade do impacto dos terroristas e as cicatrizes que deixou na sociedade global.

Terror

Ataques na Europa e em Bagdá

Paris, 2015: Em novembro de 2015, uma série de ataques ocorreu na capital francesa. Os ataques incluíram tiroteios em cafés, explosões perto do Stade de France e um massacre na casa de shows Bataclan, resultando na morte de 130 pessoas e deixando centenas de feridos.

Bruxelas, 2016: Em março de 2016, terroristas ligados ao EI atacaram o Aeroporto de Bruxelas e a estação de metrô de Maelbeek, em Bruxelas, Bélgica. Os ataques deixaram 32 mortos e mais de 300 feridos.

Nice, 2016: Em julho de 2016, um caminhão avançou sobre uma multidão que comemorava o Dia da Bastilha em Nice, França. O ataque resultou na morte de 86 pessoas e deixou centenas de feridos, sendo reivindicado pelo Estado Islâmico.

Bagdá, 2016: Em julho, uma série de explosões atingiu Bagdá, capital do Iraque. Os ataques mais mortais ocorreram no bairro de Karrada, onde um carro-bomba detonado por um suicida matou mais de 300 pessoas, marcando um dos piores ataques na história recente do país.

Manchester, 2017: Em maio de 2017, um ataque suicida ocorreu ao final de um show da cantora Ariana Grande na Manchester Arena, no Reino Unido. O ataque deixou 22 mortos, incluindo crianças, e mais de 500 feridos.

Barcelona, 2017: Em agosto de 2017, 16 pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas quando uma van atropelou pedestres nas Ramblas de Barcelona.

Imagem de propaganda veiculada pelo Estado Islâmico em 2015 (Foto: Creative Commons)

Ataques no Oriente Médio

Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), uma facção associada ao EI em território afegão e que atualmente rivaliza com o Taleban, foi responsabilizado pelas mortes de milhares de afegãos em ataques terroristas nos últimos anos.

Jalalabad, 2015: Em abril, o grupo assumiu a responsabilidade por um atentado bombista num banco em Jalalabad, no Afeganistão, que matou pelo menos 34 pessoas e feriu mais de 120.

Afeganistão, 2015: Em setembro grupo realizou um ataque a postos de controlo policial no leste do Afeganistão, matando pelo menos dois policiais.

Quetta, 2016: Em novembro, o grupo assumiu a responsabilidade por um atentado suicida num santuário sufi em Quetta, no Paquistão, que matou pelo menos 50 pessoas e feriu mais de 100 pessoas.

Cabul, 2017: Em dezembro, o grupo assumiu a responsabilidade por vários atentados suicidas num centro cultural xiita e numa agência de notícias em Cabul, no Afeganistão, que mataram mais de 41 pessoas, incluindo mulheres e crianças, e feriram mais de 84 pessoas.

Quetta, 2018: Em julho, o grupo assumiu a responsabilidade por um atentado suicida à saída de uma assembleia de voto em Quetta, no Paquistão, que matou pelo menos 31 pessoas e feriu mais de 24 pessoas. No mesmo mês, o grupo também assumiu a responsabilidade por um ataque na província do Baluchistão, no sudoeste, que matou 128 pessoas, incluindo um político que concorreu a uma legislatura provincial.

Orakzai, 2018: Em novembro, o grupo assumiu a responsabilidade por um ataque suicida no noroeste do Paquistão, tendo como alvo muçulmanos xiitas num mercado em Orakzai, matando pelo menos 33 pessoas e ferindo outras 56.

Cabul, 2021: 169 pessoas foram mortas em um atentado suicida em uma escola para meninas, a Escola Secundária de Meninas Sayed Al-Shuhada.

Outras partes do mundo

Colombo, Negombo e Batticaloa (2019): No Sri Lanka, mais de 250 pessoas foram mortas em uma série de explosões coordenadas em igrejas e hotéis durante a Páscoa.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, HezbollahHamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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