Autor de ataque terrorista em Paris jurou lealdade ao Estado Islâmico, diz procurador

Indivíduo que matou um cidadão alemão a facadas era conhecido das autoridades por ter se radicalizado e chegou a ser preso

O ataque a faca que matou um cidadão alemão em Paris na noite de sábado (2) foi uma ação terrorista. Nesta segunda-feira (4), o procurador Jean-François Ricard afirmou que o responsável pelo atentado, um cidadão francês, era conhecido das autoridades por sua posição radical em relação ao Islamismo e jurou lealdade ao Estado Islâmico (EI). As informações são da rede France 24.

De acordo com Ricard, o homem chegou a ser detido pelas autoridades recentemente, mas foi liberado. “No final de outubro de 2023, a mãe do agressor relatou preocupações sobre o comportamento do seu filho, uma vez que ele próprio tinha se entregado. Mas não havia nada que permitisse um novo processo”, disse o procurador.

O radicalismo era fácil de ser notado. Na rede social X, antigo Twitter, o acusado abriu um perfil no qual frequentemente se manifestava sobre questões ligadas aos muçulmanos, como a guerra entre Israel e Hamas, a situação na Faixa de Gaza ou questões palestinas em geral.

Inclusive, um vídeo postado pelo homem no X não deixa margem a dúvidas quanto à motivação para o ataque. “Neste vídeo, ele jurou lealdade ao Estado Islâmico e expressou apoio aos jihadistas na África, no Iraque, na Síria , no Sinai, no Iêmen e no Paquistão“, disse Ricard.

Wassim Nasr, especialista em movimentos jihadistas, concorda com a análise do promotor e diz que no vídeo o agressor “se apresenta como um soldado do califado.” Junto do agressor foram presas outras três pessoas com quem ele mantinha contato e que podem ter envolvimento com o extremismo.

Polícia francesa em ação nas ruas de Paris (Foto: Flickr)

Filho de iranianos não religiosos, o homem se radicalizou aos 18 anos e passou a consumir material de propaganda do EI. Ele tinha planos de se juntar ao grupo radical em 2016, mas não o fez. Acabou preso pelas autoridades e cumpriu quatro anos de pena por planejar um ataque. Desde então, passou a ser vigiado e voltou a ser detido em outubro, quando foi liberado por falta de evidências.

Nas redes sociais, o extremista acompanhava ao menos dois homens acusados de ataques terroristas na França, embora não haja indícios de que tenha conversado com eles. Também se submeteu a tratamento psiquiátrico em abril deste ano, de acordo com o ministro da Saúde, Aurélien Rousseau.

“Como acontece frequentemente nestes casos, há uma mistura de ideologia, uma pessoa facilmente influenciável e, infelizmente, psiquiatria”, afirmou Rousseau.

Europa em alerta

O ataque mortífero na França ocorre após outro episódio semelhante, que terminou com as mortes de dois cidadãos suecos no dia 16 de outubro em Bruxelas, na Bélgica. O autor daquele ataque foi um tunisiano que vivia ilegalmente no país e que igualmente alegou ter cometido o ato em nome do EI, que confirmou a filiação.

O extremista de Bruxelas, Abdesalem Lassoued, mais tarde morto pela polícia belga, disse que agiu motivado pelo sentimento de vingança devido aos episódios de queima do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, ocorridos recentemente na Suécia. Por isso os alvos dele foram cidadãos suecos, que visitavam a Bélgica por conta de uma partida de futebol.

Mais recentemente, em novembro, Bruxelas entrou em alerta novamente após uma ameaça de bomba que levou ao fechamento por um dia de 27 escolas. Viena, na Áustria, viveu situação semelhante no início do mês passado, com diversas escolas evacuadas devido a uma ameaça de bomba em nome do EI.

A França também foi palco de um atentado e de uma série de ameaças de bomba que fecharam o Palácio de Versalhes, o Museu do Louvre e diversos aeroportos. Em 13 de outubro, um jovem de 20 anos usou uma faca para assassinar uma professora em Arras, cidade do norte da França. Em vídeo gravado antes do ataque, ele fez breve referência ao conflito no Oriente Médio e disse agir em nome do EI.

Tais ocorrências evidenciam o aumento da ameaça terrorista na Europa, que estava em alerta desde agosto justamente devido aos protestos na Suécia. Os Estados Unidos e o Reino Unido chegaram a alertar seus cidadãos para o perigo terrorista particularmente no país escandinavo, que por sua vez elevou ao segundo nível mais alto seu alerta nacional.

Por conta dos atentados, o presidente Emmanuel Macron chegou a dizer que “todos os Estados europeus são vulneráveis, ​e há de fato um ressurgimento do terrorismo islâmico.”

Agora, após a morte do cidadão alemão, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, afirmou que a França está “sob a ameaça do Islamismo radical a longo prazo” e precisa oferecer “uma resposta penal muito forte.”

Terrorismo no Brasil

O Brasil vive igualmente momento atípico de apreensão terrorista. Episódios recentes mostram que o país é visto como porto seguro pelos extremistas e também como possível alvo de ataques.

Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, HezbollahHamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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