Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News
Mulheres e meninas são as principais responsáveis pela coleta de água em sete de cada dez domicílios que não têm abastecimento, disseram o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) em um novo relatório publicado na quinta-feira (6).
O estudo fornece a primeira análise aprofundada das desigualdades de gênero em WASH (água potável, saneamento e higiene, da sigla em inglês) nas famílias, revelando que mulheres e meninas carregam o peso da crise global de água e saneamento.
Globalmente, 2,2 bilhões de pessoas ainda não têm água potável em casa, e cerca de 3,4 bilhões não têm acesso a saneamento seguro. Cerca de dois bilhões de pessoas não podem lavar as mãos com água e sabão em casa.
O relatório constatou que as mulheres têm maior probabilidade de serem responsáveis por buscar água para as famílias, e as meninas têm quase duas vezes mais chances do que os meninos.
Viagens perigosas
Mulheres e meninas geralmente fazem viagens mais longas para buscar água, fazendo com que percam tempo com educação, trabalho e lazer. Eles também enfrentam riscos de lesões físicas e perigos no caminho.
“Cada passo que uma menina dá para coletar água é um passo além do aprendizado, da diversão e da segurança”, disse Cecilia Sharp, diretora de WASH e CEED (Clima, Energia, Ambiente e Redução de Risco de Desastres, da sigla em inglês) do Unicef, referindo-se ao trabalho da agência em clima, energia, meio ambiente e redução de riscos de desastres.
“Água imprópria, banheiros e lavagem das mãos em casa roubam o potencial das meninas, comprometem seu bem-estar e perpetuam os ciclos de pobreza”, acrescentou.
Quase dois bilhões de pessoas em todo o mundo vivem em residências sem abastecimento de água nas instalações, de acordo com o relatório. Na maioria desses domicílios, sete em cada dez mulheres e meninas com 15 anos ou mais são as principais responsáveis por buscar água, em comparação com homens e meninos.
Comprometendo a privacidade e a dignidade
Mulheres e meninas também são mais propensas a se sentir inseguras ao usar um banheiro fora de casa e sofrem desproporcionalmente o impacto da falta de higiene.
Mais de meio bilhão de pessoas em todo o mundo ainda compartilham instalações sanitárias com outras famílias, comprometendo a privacidade, dignidade e segurança de mulheres e meninas.
Pesquisas recentes em 22 países mostram que, entre as famílias com banheiros compartilhados, mulheres e meninas são mais propensas do que homens e meninos a se sentirem inseguras andando sozinhas à noite e enfrentarem assédio sexual e outros riscos de segurança.
Além disso, serviços inadequados de WASH aumentam os riscos de saúde para mulheres e meninas e limitam sua capacidade de gerenciar seus períodos com segurança e privacidade.
Maria Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS, observou que 1,4 milhão de pessoas morrem a cada ano devido ao acesso inadequado à água, saneamento e higiene.
“As mulheres e meninas não só enfrentam doenças infecciosas relacionadas a WASH, como diarreia e infecções respiratórias agudas, como também enfrentam riscos de saúde adicionais porque são vulneráveis a assédio, violência e lesões quando têm de sair de casa para transportar água ou apenas para usar o banheiro”, disse ela.
Mais ação necessária
O relatório também destacou o progresso global para garantir que as pessoas em todos os lugares tenham acesso aos serviços de WASH.
Entre 2015 e 2022, o acesso domiciliar à água potável gerenciada com segurança aumentou de 69% para 73%. O mesmo período também viu o saneamento gerenciado com segurança aumentar de 49% para 57%, e os serviços básicos de higiene aumentaram de 67% para 75%.
No entanto, as agências da ONU alertaram que são necessários maiores esforços para atingir a meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de acesso universal a serviços de WASH gerenciados com segurança até 2030.
Outras ações também são necessárias para garantir que o progresso contribua para a igualdade de gênero.