Mulheres e meninas carregam o maior fardo na crise global de água e saneamento

Necessidade de buscar água fora de casa prejudica a educação e aumenta o risco de abusos sexual no trajeto, aponta relatório

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Mulheres e meninas são as principais responsáveis ​​pela coleta de água em sete de cada dez domicílios que não têm abastecimento, disseram o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) em um novo relatório publicado na quinta-feira (6). 

O estudo fornece a primeira análise aprofundada das desigualdades de gênero em WASH (água potável, saneamento e higiene, da sigla em inglês) nas famílias, revelando que mulheres e meninas carregam o peso da crise global de água e saneamento.

Globalmente, 2,2 bilhões de pessoas ainda não têm água potável em casa, e cerca de 3,4 bilhões não têm acesso a saneamento seguro. Cerca de dois bilhões de pessoas não podem lavar as mãos com água e sabão em casa. 

O relatório constatou que as mulheres têm maior probabilidade de serem responsáveis ​​por buscar água para as famílias, e as meninas têm quase duas vezes mais chances do que os meninos.

Refugiados dos conflitos em Cabo Delgado buscam água em fonte de assentamento na cidade de Metuge, Moçambique, dezembro de 2020 (Foto: Unicef/Mauricio Bisol)
Viagens perigosas 

Mulheres e meninas geralmente fazem viagens mais longas para buscar água, fazendo com que percam tempo com educação, trabalho e lazer. Eles também enfrentam riscos de lesões físicas e perigos no caminho.

“Cada passo que uma menina dá para coletar água é um passo além do aprendizado, da diversão e da segurança”, disse Cecilia Sharp, diretora de WASH e CEED (Clima, Energia, Ambiente e Redução de Risco de Desastres, da sigla em inglês) do Unicef, referindo-se ao trabalho da agência em clima, energia, meio ambiente e redução de riscos de desastres. 

“Água imprópria, banheiros e lavagem das mãos em casa roubam o potencial das meninas, comprometem seu bem-estar e perpetuam os ciclos de pobreza”, acrescentou.

Quase dois bilhões de pessoas em todo o mundo vivem em residências sem abastecimento de água nas instalações, de acordo com o relatório. Na maioria desses domicílios, sete em cada dez mulheres e meninas com 15 anos ou mais são as principais responsáveis ​​por buscar água, em comparação com homens e meninos.

Comprometendo a privacidade e a dignidade

Mulheres e meninas também são mais propensas a se sentir inseguras ao usar um banheiro fora de casa e sofrem desproporcionalmente o impacto da falta de higiene.

Mais de meio bilhão de pessoas em todo o mundo ainda compartilham instalações sanitárias com outras famílias, comprometendo a privacidade, dignidade e segurança de mulheres e meninas. 

Pesquisas recentes em 22 países mostram que, entre as famílias com banheiros compartilhados, mulheres e meninas são mais propensas do que homens e meninos a se sentirem inseguras andando sozinhas à noite e enfrentarem assédio sexual e outros riscos de segurança.

Além disso, serviços inadequados de WASH aumentam os riscos de saúde para mulheres e meninas e limitam sua capacidade de gerenciar seus períodos com segurança e privacidade.

Maria Neira, diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS, observou que 1,4 milhão de pessoas morrem a cada ano devido ao acesso inadequado à água, saneamento e higiene.

“As mulheres e meninas não só enfrentam doenças infecciosas relacionadas a WASH, como diarreia e infecções respiratórias agudas, como também enfrentam riscos de saúde adicionais porque são vulneráveis ​​a assédio, violência e lesões quando têm de sair de casa para transportar água ou apenas para usar o banheiro”, disse ela.

Mais ação necessária

O relatório também destacou o progresso global para garantir que as pessoas em todos os lugares tenham acesso aos serviços de WASH.

Entre 2015 e 2022, o acesso domiciliar à água potável gerenciada com segurança aumentou de 69% para 73%. O mesmo período também viu o saneamento gerenciado com segurança aumentar de 49% para 57%, e os serviços básicos de higiene aumentaram de 67% para 75%.

No entanto, as agências da ONU alertaram que são necessários maiores esforços para atingir a meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de acesso universal a serviços de WASH gerenciados com segurança até 2030. 

Outras ações também são necessárias para garantir que o progresso contribua para a igualdade de gênero. 

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