Ativistas iranianos sugerem que assassinato de cineasta tenha sido politicamente motivado

Dariush Mehrjui e mulher dele, Vahideh Mohammadifar, forma encontrados com as gargantas cortadas no último final de semana

No último sábado (14), os corpos do cineasta iraniano Dariush Mehrjui e da mulher dele, Vahideh Mohammadifar, foram encontrados na residência do casal, nas cercanias de Teerã. Os dois tiveram as gargantas cortadas, num crime que ativistas iranianos sugerem ter motivação política. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Mehrjui, um dos principais expoentes da nova onda do cinema iraniano, não era considerado uma figura politicamente controversa, de acordo com o jornal The New York Times. Ainda assim, têm pipocado nas redes sociais comparações com assassinatos políticos ocorridos no Irã nos anos 1990, sobretudo o do político Dariush Foruhar.

O cineasta iraniano Dariush Mehrjui, morto em 14 de outubro de 2023 (Foto: Armin Karami/WikiCommons)

Critico dos abusos de direitos humanos no Irã, Foruhar foi encontrado morto ao lado da mulher em 21 de novembro de 1998, na residência do casal na capital. Os dois foram esfaqueados. Embora o crime jamais tenha sido ligado oficialmente à cúpula do governo, os assassinos confessos serviam ao Ministério da Inteligência, mas Teerã sempre alegou que eles agiram por conta própria.

O ex-vice-ministro da Inteligência Saeed Emami chegou a ser preso como mentor do crime, mas morreu sob custódia em circunstâncias misteriosas. Segundo relembra a rede BBC, as autoridades alegam que ele se suicidou.

“O horrível assassinato de Dariush Mehrjooi, um proeminente cineasta iraniano, e de sua esposa, exatamente no mesmo estilo do assassinato de Dariush Forohar e sua esposa, tem definitivamente uma mensagem clara”, disse na rede social X, antigo Twitter, o ativista político Emadaldin Baghi.

Como Foruhar, outros críticos vocais do governo iraniano foram vitimados em uma série de assassinatos ocorridos entre os anos de 1988 e 1998. Os “crimes em série”, como são popularmente conhecidos no país, também custaram as vidas de figuras como Mohammad Jafar Pouyandeh, um tradutor do mercado literário relativamente desconhecido, e o poeta Mohammad Mokhtari.

Pouyandeh e Mokhtari eram membros da Associação de Escritores Iranianos, que entrou na mira do regime pelas críticas às autoridades locais. Em dada ocasião, um ônibus com 21 autores a bordo quase foi jogado desfiladeiro abaixo em uma viagem rumo à Armênia, uma tentativa de assassinato coletivo evitada porque um dos passageiros conseguiu puxar o freio de mão antes que o veículo despencasse.

Agora, a morte de Mehrjui levanta entre ativistas e dissidentes a suspeita de que Teerã tenha voltado a perseguir seus inimigos como o fez no final do século passado. Isso em um momento de ebulição na nação islâmica, onde protestos populares eclodiram após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos repreendida pela “polícia da moralidade” por usar incorretamente o hijab em setembro de 2022.

Segundo a advogada Nasrin Sotudeh, que milita na área dos direitos humanos, a morte do cineasta e da mulher traz “assustadoramente de volta memórias do angustiante assassinato de Dariush Foruhar e sua esposa, especialmente quando nos aproximamos do aniversário de sua morte.” Analogia idêntica fez a Associação de Artistas Iranianos de Cinema e Teatro no Exterior.

Já a mídia estatal rejeitou qualquer relação entre o governo e as duas mortes do final de semana e disse que as comparações com crimes do passado são uma tentativa indevida de politizar o assunto.

Tags: