Mais de uma década após o desaparecimento do jornalista norte-americano Austin Tice na Síria, um ex-general do alto escalão do regime do ditador deposto Bashar al-Assad afirmou a autoridades dos EUA que o então presidente sírio ordenou a execução do profissional de mdia. A informação foi revelada por fontes de segurança à rede BBC, que realizou uma investigação inédita sobre o caso.
Tice, que havia servido como fuzileiro naval dos EUA e estudava Direito em Georgetown, desapareceu em agosto de 2012, nas proximidades de Damasco. Ele atuava como jornalista freelancer e tentava deixar o país quando foi sequestrado. Durante anos, o governo sírio negou saber de seu paradeiro. Segundo a investigação da BBC, essa versão era falsa, e Tice foi mantido em um centro de detenção controlado pela milícia pró-regime Forças de Defesa Nacional (NDF), então chefiada pelo general Bassam Al Hassan.
Al Hassan, que ocupava também o posto de comandante da Guarda Republicana e era considerado um dos conselheiros mais próximos de Assad, revelou a agentes do FBI, a polícia federal norte-americana, e da CIA (Agência central de Inteligência) que o próprio presidente sírio teria dado a ordem para matar o jornalista. As reuniões com os agentes ocorreram no Líbano, ao menos uma delas dentro do complexo da embaixada dos EUA.

De acordo com os relatos, Al Hassan teria tentado inicialmente convencer Assad a não executar Tice, mas acabou repassando a ordem que, segundo ele, foi cumprida. O ex-general também forneceu às autoridades locais possíveis locais onde o corpo de Tice poderia estar enterrado. Fontes próximas à investigação informaram que os EUA pretendem iniciar buscas nesses locais, embora ainda não tenham verificado a veracidade dos relatos.
Apesar da gravidade das declarações, analistas da inteligência ocidental ouvidos pela BBC se mostram céticos quanto à hipótese de Assad ter dado pessoalmente a ordem de execução, citando o histórico do ex-presidente de evitar envolvimento direto em decisões desse tipo. Desde a queda do regime em dezembro de 2023, Al Hassan fugiu para o Irã, de onde teria sido chamado ao Líbano com garantias de que não seria preso.
A mãe do jornalista, Debra Tice, soube das declarações de Al Hassan durante uma visita ao Líbano acompanhada pela BBC. Ela tentou se encontrar pessoalmente com o ex-general, mas não teve sucesso. “Só queria poder falar com ele como mãe e perguntar sobre meu filho”, disse.
Questionada sobre as alegações de Al Hassan, Debra manifestou desconfiança. “Tenho a sensação de que ele contou ao FBI a história que eles queriam ouvir”. Ainda assim, diz manter a esperança. “Sou mãe. Ainda acredito que meu filho está vivo e que ele vai sair livre”.