Cientista de foguetes iraniano morre em circunstâncias misteriosas

O engenheiro aeroespacial Ayoob Entezari é a mais recente das quatro mortes suspeitas no país de maio para cá, alimentando especulações com Israel

Após a morte misteriosa do cientista de foguetes iraniano Ayoob Entezari, na terça-feira (31) da semana passada, autoridades locais entregaram uma carta à família da vítima referindo-se a ele como “mártir”, o que sugere um assassinato. Pouco depois, uma retratação foi enviada, informando que o documento era “um erro do escritório de relações públicas” e que a causa do óbito estava sob investigação. O episódio alimentou as especulações que envolvem uma sequência de assassinatos na república islâmica, de acordo com a agência Al Jazeera.

Entezari teria trabalhado no desenvolvimento de mísseis e drones em um centro de pesquisa e desenvolvimento na cidade de Yazd, no Irã. Segundo a imprensa israelense, que trata a morte como “suspeita”, ele teria sido intencionalmente envenenado por um conhecido durante um jantar. Após o episódio, o anfitrião da noite teria fugido do país.

O engenheiro aeroespacial iraniano Ayoob Entezari (Foto: Twitter/Reprodução)

Relatórios iniciais sugeriram que o cientista teria morrido de intoxicação alimentar, o que foi negado pelas autoridades locais no domingo (5), alegando que ele faleceu em consequência de uma doença não especificada e acusando “um de seus parentes” de procurar 15 minutos de fama ao espalhar um “rumor online”. O judiciário de Yazd prometeu punir o indivíduo.

Nesta segunda (6), Ali Salehi, chefe do departamento de comunicações do governo provincial, disse que era necessário aguardar a opinião das autoridades competentes sobre a questão.

Em um post no Instagram, Mahmud Entezari, que alega ser parente do cientista morto, afirmou que Ayoob Entezari confidenciou a ele que estava com medo de se transformar em um alvo de Israel após ser fotografado ao lado do então presidente iraniano Hassan Rohani durante a inauguração de uma fábrica de turbinas eólicas em 2019.

“Não se surpreenda se eu sofrer o mesmo destino que [Mostafa] Ahmadi Roshan”, teria dito Entezari ao familiar, fazendo referência a um cientista nuclear iraniano assassinado em 2012.

Entezari ao lado do então presidente do Irã Hassan Rohani em 2019, durante abertura da Fábrica de Turbinas da Ghadir Industrial Turbines Company, em Yazd (Foto: Twitter/Reprodução)
Outras mortes

O suposto assassinato de Entezari ocorreu dias após a república islâmica anunciar a igualmente misteriosa morte de Ali Esmailzadeh, um coronel da Força Quds, o braço de operações no exterior da Guarda Revolucionária do Irã (IRGC), a elite das forças armadas do país.

A mídia estatal informou na sexta-feira (3) que Esmailzadeh morreu há pouco mais de uma semana após ter caído de sua varanda na cidade de Karaj, perto de Teerã.

Já o tabloide britânico Mirror repercutiu a informação da rede Iran International, com sede em Londres, que citou fontes no Irã afirmando que a Guarda Revolucionária Islâmica matou Esmailzadeh por suspeita de espionagem. Oficiais da IRGC relataram à família do coronal que a causa de sua morte foi suicídio.

Esmailzadeh era um colega do também coronel Hassan Sayyad-Khodaei, comandante interino da Força Quds, morto a tiros do lado de fora de sua casa em Teerã no dia 22 de maio por dois homens armados em uma motocicleta.

Em 26 de maio, o engenheiro Ehsan Ghad Beigi teve sua morte anunciada pelas autoridades em um “acidente industrial” na base militar de Parchin. Segundo o jornal The New York Times, Beigi teria sido vítima de um suposto ataque de drone israelense.

As mortes estão conectadas a uma série de incidentes que Teerã atribui a Israel, entre eles assassinatos de pelo menos cinco cientistas nucleares iranianos na década passada, sabotagem e ciberataques. Os crimes levantaram questões sobre a possibilidade de agências de inteligência estrangeiras penetrarem no aparato de segurança do Irã.

Em junho do ano passado, Yossi Cohen, ex-diretor do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, sugeriu que seu país estaria por trás de ataques a instalações nucleares no Irã, bem como do assassinato de um cientista do país inimigo

O cientista iraniano Mohsen Fakhrizadeh, pioneiro no programa nuclear de Teerã e que também tinha patente militar de general, foi assassinado em novembro de 2020.

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