Clérigo do Taleban e mais 18 pessoas morrem em explosão no Afeganistão

O assassinato de Mujib Rahman Ansari é o mais recente de uma série de assassinatos de figuras pró-Talibã no país

Clérigo importante do Taleban, Mujib Rahman Ansari morreu em uma explosão causada por um terrorista suicida na cidade de Herat, no Afeganistão, nesta sexta-feira (2). Além dele, 18 pessoas morreram e 23 ficaram feridas, segundo informações da rede britânica BBC.

Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque, que o Taleban classificou como “sinistro” e “covarde”.

De acordo com a polícia, Ansari chegava à mesquita de Gazargah para liderar as orações do meio-dia quando um homem-bomba beijou a mão do clérigo e detonou um artefato explosivo.

Homem-bomba do EI-K no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)

Imagens divulgadas nas redes sociais mostram vários corpos ensanguentados em meio a uma cena de devastação do lado de fora do complexo da mesquita. O número de vítimas pode ser maior que o divulgado inicialmente.

O clérigo era muito conhecido no Afeganistão pelo seu apoio ao governo do Taleban. Ansari é a vítima mais recente de uma série de assassinatos de figuras pró-Taleban no país e o quarto clérigo muçulmano a ser morto em menos de dois meses.

Um porta-voz do Taleban lamentou a morte de Mujib no Twitter: “Infelizmente, o popular erudito religioso do país, Mawlawi Mujib Rahman Ansari, foi martirizado em um ataque covarde durante as orações de sexta-feira em Herat”.

O Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) não reivindicou a responsabilidade pelo ataque, mas o grupo havia publicado vídeos ameaçando o clérigo antes do ataque.

Vários dos recebtes ataques contra figuras pró-Taleban foram reivindicados pelo EI-K, incluindo uma explosão suicida no mês passado na capital Cabul, que matou o líder religioso Sheikh Sahib Rahimullah Haqqani. Dias depois, 21 pessoas morreram em uma explosão em uma mesquita de Cabul.

Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan, quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

No início de outubro de 2021, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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