Com mulheres impedidas de trabalhar, ONU já admite deixar o Afeganistão

Homens a serviço das Nações Unidas também deixaram de trabalhar, em solidariedade às colegas vítimas do Taleban

Seria uma decisão de “partir o coração”. Mas a ONU (Organização das Nações Unidas) não descarta a possibilidade de encerrar suas ações humanitárias no Afeganistão caso as mulheres continuem impedidas pelo Taleban de trabalhar para a entidade. As informações são da agência Associated Press (AP).

Achim Steiner, chefe do Programa de Desenvolvimento da ONU (Pnud), disse que mantém negociações com os talibãs para que o decreto proibindo as mulheres de trabalhar seja derrubado, veto que levou inclusive os homens a deixarem seus postos. Segundo ele, “todo o sistema das Nações Unidas teve que dar um passo para trás e reavaliar sua capacidade de operar lá”.

Afegãos afetados pelo terremoto que atingiu seu país (Foto: Mark Naftalin/Unicef)

Embora alguns trabalhos tenham sido permitidos às mulheres, seria necessário colocar toda mão de obra feminina em ação para recuperar a economia estraçalhada do país. Com uma população estimada pela ONU em cerca de 40 milhões e PIB (produto interno bruto) de US$ 14,3 bilhões em 2022, o Afeganistão está entre os países com a menor renda per capita do mundo, tendo cerca de 85% da população estimada vivendo abaixo da linha da pobreza.

O resultado é um país com 23 milhões de pessoas dependentes de ajuda humanitária, que se torna praticamente inviável sem a mão de obra feminina. Por ora, elas estão autorizadas a trabalhar somente em caso específicos e em setores como saúde, educação e pequenos negócios. Se a situação não mudar, a ONU admite que ficaria sem outra opção que não deixar o país.

“Acho que não há outra maneira de colocar isso que não seja de partir o coração”, disse Steiner. “Quero dizer, se eu fosse imaginar a família da ONU não estando no Afeganistão hoje, eu teria diante de mim essas imagens de milhões de meninas, meninos, pais, mães, que essencialmente não terão o suficiente para comer”.

Embora os radicais que governam o país tenham feito concessões parciais, o chefe do Pnud diz que eles constantemente mudam as regras, emitindo novos decretos que geram novos desafios para as equipes humanitárias. “Estamos nos aproximando de um momento muito fundamental. E, obviamente, nossa esperança e expectativa é que algum bom senso prevaleça”, afirmou.

A proibição afeta somente as trabalhadoras locais, enquanto as mulheres estrangeiras a serviço da ONU seguem autorizadas a trabalhar. Porém, devido ao veto, inclusive os homens afegãos decidiram não mais comparecer ao trabalho em solidariedade às colegas. A estimativa é de que 3,3 mil afegãos, sendo 2,7 mil homens e 600 mulheres, estejam fora de serviço.

“Estamos revisando como podemos fazer nosso trabalho e como podemos fazê-lo respeitando a lei internacional de direitos humanos”, disse Steiner. “Estamos fazendo tudo o que podemos para ver como podemos continuar a fazer isso”.

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