Após o Taleban proibir as mulheres de trabalhar para as agências da ONU (Organização das Nações Unidas), que levam assistência para cerca de 23 milhões de pessoas – mais da metade da população do Afeganistão – que necessitam de ajuda humanitária, as equipes foram orientadas a não cumprir expediente nos escritórios no país. As informações são da rede CNN.
A diretriz vem logo após a decisão de homens afegãos a serviço da ONU em Cabul não comparecerem ao trabalho na semana passada em solidariedade a suas colegas que levam ajuda humanitária à imensa fatia da população carente de assistência, particularmente às famílias que vivem em situação de insegurança alimentar.
“O pessoal nacional da ONU – homens e mulheres – foi instruído a não se reportar aos escritórios da organização, com exceções limitadas para tarefas críticas”, disse a organização em um comunicado.
Segundo as Nações Unidas, a medida imposta pelos talibãs é uma extensão daquela anunciada em dezembro, quando a organização fundamentalista proibiu o trabalho de mulheres afegãs em ONGs, levando muitas agências a suspender as atividades por falta de mão de obra. À época, a determinação não impactou no trabalho de mulheres para a ONU, mas havia temores temores de que as isso poderia ocorrer.
“Esta é a mais recente de uma série de medidas discriminatórias implementadas pelas autoridades de fato do Taleban com o objetivo de restringir severamente a participação de mulheres e meninas na maioria das áreas da vida pública e cotidiana no Afeganistão”, acrescentou a ONU.
Na semana passada, o vice-representante especial da ONU, Ramiz Alakbarov, residente e coordenador humanitário para o Afeganistão, definiu a medida do Taleban como uma “violação sem paralelo dos direitos humanos”.
“Na história das Nações Unidas, nenhum outro regime jamais tentou proibir as mulheres de trabalhar para a organização apenas porque são mulheres. Esta decisão representa um ataque contra as mulheres, os princípios fundamentais da ONU e o direito internacional”, disse Otunbayeva.
A ONU tem cerca de 3.900 funcionários no Afeganistão, sendo 3.300 afegãos e 600 vindos de outras partes do mundo, detalhou Stephane. Desse total, 600 são mulheres afegãs e outras 200 de outros países. O contingente feminino é “essencial” para a execução de operações de salvamento das Nações Unidas, diz a organização.
O regime talibã alega que respeita os direitos das mulheres de acordo com a ‘Sharia’, uma abordagem radical da lei islâmica.
Por que isso importa?
A vida das mulheres tem sido particularmente dura no Afeganistão. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.
Na educação, o governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um “ambiente seguro”. No dia 20 de dezembro, o grupo radical que comanda o país anunciou ainda que as mulheres estão proibidas de frequentar as universidades do Afeganistão.
Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.
Há ainda um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).
A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.