Com onda de protestos prestes a completar um ano, Irã aumenta a repressão

Grupo ativista diz que 22 pessoas, em sua maioria mulheres, foram presas pelas forças de segurança em menos de um mês

Centro de Direitos Humanos no Irã (CHRI, da sigla em inglês) denunciou na segunda-feira (21) o aumento da repressão estatal no país nas últimas semanas, com ao menos 22 ativistas, em sua maioria mulheres, preventivamente detidos em um intervalo de menos de um mês.

A ação das forças de segurança ocorre às vésperas do aniversário de um ano da morte de Mahsa Amini, uma jovem de de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

A morte dela, em 16 de setembro de 2022, desencadeou protestos em todo o país, inseridos no movimento Woman, Life, Freedom (Mulher, Vida, Liberdade, em tradução literal). Agora, com a morte de Mahsa Amini e a onda de manifestações prestes a completarem um ano, Teerã ampliou a vigilância estatal.

“As autoridades iranianas estão perseguindo ativistas em todo o país, especialmente mulheres, para transmitirem uma mensagem de medo à população antes do aniversário de um ano do movimento de protesto Woman, Life, Freedom”, disse Hadi Ghaemi, diretor executivo do CHRI.

Manifestação em Estocolmo, na Suécia, pelo fim da repressão estatal no Irã (Foto: Artin Bakhan/Unsplash)

A entidade destaca que a perseguição aos manifestantes corre paralelamente a outras medidas para silenciar a população. A polícia da moralidade voltou a atuar, líderes religiosos críticos ao regime têm sido perseguidos e expulsos do país e membros da fé minoritária bahá’í vêm sendo presos simplesmente por praticarem sua religião.

Teerã também colocou em prática uma campanha de assédio e intimidação contra as famílias de vítimas da violência estatal, uma forma de pressioná-las a permanecerem caladas.

O CHRI listou os nomes dos 22 detidos nas últimas semanas e disse que muitos deles entraram em contato com familiares de vítimas da repressão.

De acordo com o Ministério da Inteligência do Irã, os indivíduos presos estavam “se preparando para incitar distúrbios e insegurança em Gilan (província iraniana), bem como em partes da província do Curdistão.”

“Mais do que uma repressão, este é um ataque deliberado à sociedade civil”, disse Ghaemi. “A liderança do Irã continua a revelar seu profundo medo de seus cidadãos.”

Por que isso importa?

Os protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini começaram no Curdistão, província onde ela vivia, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da República Islâmica.

As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de centenas de mortes nas mãos da polícia e inúmeros casos de execuções judiciais abusivas, aplicadas contra manifestantes julgados às pressas.

No início de outubro de 2022, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

Além dos mortos e feridos, a ONG destaca os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. E cita também o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

Tags: