Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site da revista World
Por A. S. Ibrahim
Depois que o Afeganistão voltou às mãos do Taleban, a Associated Press (AP) entrevistou o mulá Nooruddin Turabi, um dos fundadores do grupo e conhecido como “o principal executor de sua dura interpretação da lei islâmica”. A palavra “dura” é usada pela AP, não pelo talibã. Turabi nunca usaria esse adjetivo para descrever seus pontos de vista e a aplicação da lei islâmica, mas a linguagem do serviço de notícias é precisa.
A entrevista revela muito sobre o Taleban e sua visão de mundo, explicando o que realmente importa para os líderes do grupo radical islâmico e a força motriz de suas ações. Embora muitos possam esperar que o Taleban esteja pronto para se integrar à sociedade internacional, as palavras de Turabi indicam que estamos à beira de mais atrocidades, impulsionados por uma adesão à aplicação literal da lei islâmica pelo Taleban.
Depois que o Taleban assumiu o controle do Afeganistão na década de 1990, eles começaram a decapitar pessoas em grandes estádios ou pátios de mesquitas para mostrar ao mundo como aplicavam abertamente a lei islâmica. Turabi desempenhou um papel significativo nessas ações, pois era o chefe da Polícia Islâmica, encarregado de garantir que os cidadãos aderissem à virtude.
Sob Turabi, o Taleban proibiu os esportes, e os homens foram forçados a ir às mesquitas para rezar cinco vezes por dia. A AP observou que Turabi “rotineiramente batia em homens cujas barbas haviam sido aparadas”. Alguns podem afirmar que Turabi foi um radical, mas ele simplesmente procurou aplicar seus pontos de vista da lei islâmica precisamente como escrito em fontes muçulmanas confiáveis.
Hoje, Turabi oferece várias mensagens ao mundo, que a AP resumiu em sua manchete: “Punição severa, execuções retornarão”.
Turabi está ciente da indignação mundial com as ações do Taleban, mas ele simplesmente não se importa e defende uma equivalência entre a justiça do Taleban e as expressões ocidentais de justiça informadas pelo cristianismo. “Todos nos criticaram pelas punições no estádio, mas nunca dissemos nada sobre suas leis e punições”, disse Turabi na entrevista.
Qual é a visão de mundo predominante em sua mente?
Para Turabi, o mundo está dividido em dois campos: a casa do Islã e a casa da guerra. Na casa do Islã, a lei islâmica é valorizada e aplicada. A casa da guerra está em qualquer outro lugar, onde, segundo Turabi, a infidelidade e a incredulidade florescem por meio de leis não-islâmicas.
Ele tem uma mensagem para aqueles que esperam um Taleban mais tolerante. “Ninguém vai nos dizer quais devem ser nossas leis”, disse Turabi. “Seguiremos o Islã e faremos nossas leis no Alcorão.”
O Taleban não quer ser politicamente correto, mas teologicamente correto, com o Alcorão como base das leis do Afeganistão. “As mesmas punições seriam revividas”, insistiu Turabi, deixando claro que as punições islâmicas serão a lei do país.
Mas quais são essas punições tradicionais sob a lei islâmica?
Fontes muçulmanas originais incluem punições precisas prescritas por Allah para ofensas específicas. Essas punições são muitas vezes conhecidas pelo termo árabe do Alcorão, “hudud”, que significa “limites de Allah” ou “punições de Allah”. Esses hudud são adotados e aplicados em países como Irã, Paquistão e Arábia Saudita.
Para o Taleban e afins, há pelo menos sete grandes ofensas contra Allah: adultério, homossexualidade, beber vinho, apostasia, furto, falsa acusação e roubos nas estradas. Esta lista pode incluir mais crimes ou omitir alguns. Um juiz muçulmano qualificado – como Turabi – pode atribuir e executar a punição divina.
Por exemplo, sob a lei islâmica tradicional, a homossexualidade e o abandono do Islã, ou seja, a apostasia, recebem a pena de morte. O adultério é punido com açoitamento ou apedrejamento até a morte. O roubo é punível com a amputação de uma mão e um pé. Beber álcool e falsa acusação são puníveis com 40 ou 80 chicotadas.
Existem muçulmanos que apoiam essas punições como um dever religioso em cumprimento da lei islâmica? A resposta pode ser chocante para alguns.
Em 2013, uma pesquisa do Pew Research Center perguntou a muçulmanos em 39 países se eles queriam que as prescrições islâmicas fossem a lei do país. As respostas a esta pergunta variaram, dependendo do país. No entanto, ficou claro que 99% dos muçulmanos no Afeganistão apoiavam a lei islâmica. No Iraque, foi de 91%, e no Paquistão, 84%.
Aparentemente, Turabi tem fãs no Afeganistão que apoiam sua visão de mundo – muitos deles.
Mas ele tem mais uma mensagem para o mundo sobre o Taleban. “Estamos mudados do passado”, disse ele à AP. Mas não há absolutamente nenhuma evidência de que o Taleban tenha mudado sua visão de mundo ou sua abordagem à justiça islâmica.
Enquanto isso, o mundo deve estar pronto para assistir a espancamentos, apedrejamentos, amputações e execuções – tudo transmitido ao vivo de estádios no Afeganistão.