Direitos das mulheres são fundamentais para a recuperação econômica do Afeganistão

Relatório da ONU traça um quadro sombrio das condições socioeconômicas desde que os talibãs regressaram ao poder

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

A recuperação econômica no Afeganistão depende do apoio internacional para aumentar a produtividade e restabelecer os direitos das mulheres, afirmou o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em novo relatório divulgado na quinta-feira (18). 

O documento traça um quadro sombrio das condições socioeconômicas desde que os talibãs regressaram ao poder em agosto de 2021, com a erosão dos direitos das mulheres e um sistema bancário à beira do colapso, identificados como principais áreas de preocupação.

A economia afegã não se recuperou da contração acumulada de 27% registada desde 2020 e parece estar se estabilizando num nível de atividade muito baixo.  

Isto se deve em grande parte a restrições no setor bancário, a perturbações no comércio, a instituições públicas enfraquecidas e isoladas e à quase ausência de investimento estrangeiro e de apoio de doadores a setores como a agricultura e a indústria transformadora.

As instituições públicas, especialmente no sector econômico, continuam a perder conhecimentos e capacidades técnicas, incluindo mulheres trabalhadoras, o que agrava ainda mais a situação.

Embora tenham sido feitos progressos em algumas áreas, incluindo na manutenção da estabilidade e segurança, e no controle da produção de ópio e do comércio ilícito, não foram suficientes para mudar a trajetória do país.

Uma mulher é tratada por seus ferimentos após terremoto no Afeganistão em 2022 (Foto: WikiCommons)
Impacto severo nas mulheres 

Além disso, as crises humanitária e econômica, bem como as restrições aos direitos das mulheres, tiveram um impacto grave na população feminina.

As mulheres não só têm acesso limitado aos espaços públicos, como também consomem agora menos alimentos e enfrentam maior desigualdade de rendimentos em comparação com os homens. A proporção de mulheres que trabalham em todos os sectores também caiu drasticamente, de 11% em 2022 para apenas 6% neste ano.

O relatório também apresenta o Índice de Insegurança de Subsistência (SII), que utiliza 17 indicadores não monetários em três dimensões para medir a privação.

Quase 70% dos afegãos não conseguem satisfazer as suas necessidades básicas de alimentação, cuidados de saúde, emprego e outras necessidades diárias, de acordo com o índice.

Declínio na ajuda externa 

A assistência internacional tem sido vital no Afeganistão. Salvou milhões de pessoas da fome, impediu o desaparecimento de milhares de meios de subsistência e de microempresas e ajudou a evitar o colapso econômico.

No entanto, os fluxos de ajuda estão diminuindo num momento em que a esmagadora maioria da população continua altamente vulnerável, disse Stephen Rodriques, representante residente do PNUD no país.

“A assistência e os esforços requerem investimento complementar para estimular a recuperação do setor privado, do sistema financeiro e da capacidade global de produção da economia”, afirmou.

Coloque as mulheres em primeiro lugar 

O relatório sublinhou a necessidade de enfrentar os desafios do sistema bancário, incluindo o setor das microfinanças, crucial para apoiar as micro e pequenas empresas lideradas por mulheres, que registaram uma contração de 60% desde 2021.

A participação econômica das mulheres deve estar na vanguarda de quaisquer esforços destinados a resolver as crises no Afeganistão, afirmou o PNUD.

A agência apelou à integração do desenvolvimento econômico local, à resiliência contra choques e ao crescimento robusto liderado pelo setor privado para sustentar os meios de subsistência. 

Apelou também para que se concentre na recuperação duradoura e se dê prioridade às necessidades de todos os afegãos vulneráveis, especialmente mulheres e meninas. 

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