Na quarta-feira (6), Tamir Pardo, ex-chefe da Mossad, a agência de inteligência israelense, declarou à agência Associated Press que Israel está, de fato, impondo um sistema de apartheid na Cisjordânia. Ele se junta assim a um crescente número de ex-funcionários de alto escalão que endossam essa ideia, uma perspectiva que tem sido em grande parte marginalizada tanto no discurso israelense quanto na diplomacia internacional.
“Há um Estado de apartheid aqui. Em um território onde duas pessoas são julgadas sob dois sistemas jurídicos, isso é um Estado de apartheid”, disse ele.
Pardo é a mais recente figura de destaque a concluir que o tratamento dispensado por Israel aos palestinos na Cisjordânia equivale ao apartheid, fazendo referência ao sistema de segregação racial que existiu na África do Sul até 1994.
Grupos de direitos humanos tanto em Israel quanto no exterior, assim como os próprios palestinos, têm acusado Israel e sua ocupação de 56 anos na Cisjordânia de estabelecer um sistema segregatório que, segundo eles, relega os palestinos a um status de segunda classe e visa manter a supremacia judaica desde o rio Jordão até o Mar Mediterrâneo.
Antigos líderes, diplomatas e agentes de segurança israelenses alertaram anteriormente sobre o risco de Israel se tornar um Estado de apartheid, mas a linguagem usada por Pardo foi ainda mais incisiva.
Pardo, que foi nomeado pelo então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e serviu como diretor da agência de inteligência clandestina de Israel de 2011 a 2016, não revelou se mantinha as mesmas opiniões durante seu mandato na Mossad. No entanto, ele enfatizou a crença de que, para o país, uma das questões mais urgentes é a situação dos palestinos – mesmo acima do programa nuclear do Irã, que Netanyahu via como uma ameaça existencial.
Pardo também destacou que, enquanto chefiava a Mossad, pressionou insistentemente Netanyahu para tomar uma decisão em relação à delimitação das fronteiras de Israel.
“Israel precisa definir seus objetivos”, disse Pardo. “Um país sem fronteiras não possui limites claros.”
Pardo explicou que os cidadãos israelenses têm a liberdade de entrar em um veículo e dirigir para qualquer destino, com exceção da Faixa de Gaza bloqueada, enquanto os palestinos não desfrutam da mesma liberdade de movimento.
Os cidadãos israelenses têm a entrada proibida nas regiões palestinas da Cisjordânia, mas têm permissão para atravessar Israel e circular pelas partes da Cisjordânia que correspondem a 60% sob controle israelense. Enquanto isso, os palestinos precisam obter a autorização de Israel para entrar no país e frequentemente enfrentam a necessidade de passar por postos de controle militares para se deslocarem dentro da própria Cisjordânia.
Os comentários de Pardo vêm após acusações semelhantes feitas pelo general israelense aposentado Amiram Levin, que afirmou que o exército está envolvido em crimes de guerra na Cisjordânia ocupada.
Israel mantém o controle da Cisjordânia e Jerusalém Oriental desde 1967, um território que os palestinos consideram parte fundamental de seu futuro Estado independente.
As ações de Israel na Cisjordânia em 2023 tornaram este ano o mais violento desde 2005, superando o número de incidentes do ano anterior.
De acordo com um levantamento da AP, mais de 180 palestinos perderam a vida este ano devido a essas ações.