Execuções aumentam no Irã enquanto o governo tenta silenciar dissidentes

Jovens são enforcados sem devido processo ou julgamentos justos na República Islâmica, relata ONG

As execuções por motivos políticos no Irã estão aumentando rapidamente. Pelo menos 17 homens, a maioria jovens, foram enforcados de maneira ilegal nos últimos 10 meses, apurou a ONG Centro de Direitos Humanos no Irã (CHRI, da sigla em inglês).

A República Islâmica tem historicamente executado indivíduos por razões políticas, como expressão pacífica de dissidência, participação em protestos e associação com grupos de oposição.

No entanto, o uso aberto dessas execuções como forma de intimidação e retaliação contra críticos ao regime está se tornando mais frequente. Hadi Ghaemi, diretor executivo do CHRI, enfatiza que a comunidade internacional precisa deixar claro para as autoridades iranianas que “continuar com essa violência resultará em um aumento significativo no isolamento político e econômico do país”. Sem uma ação internacional coordenada, “essa situação de violência persistirá“, disse ele.

Populares acompanham execução pública no Irã (Foto: WikiCommons)

O aumento ocorreu após os protestos em todo o Irã após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia do Estado em setembro de 2022. Durante esses protestos, muitos iranianos expressaram pacificamente forte desaprovação à ordem política repressiva da República Islâmica.

Sete jovens foram enforcados até julho de 2023 por participarem desses protestos, e desde o início dos protestos em setembro de 2022, pelo menos outras 10 pessoas foram enforcadas por vários crimes políticos.

Essas execuções ocorreram após processos e julgamentos que violaram gravemente o devido processo e os direitos a um julgamento justo, conforme garantido pela lei iraniana e pelos tratados internacionais dos quais o Irã é signatário. Essas violações incluíram:

– Negação do direito a um advogado
– Negação do direito a escolher um advogado
– Uso de tortura para extrair “confissões” forçadas, posteriormente utilizadas como prova para condenação
– Negação da capacidade de apresentar uma defesa efetiva em tribunal, através da retenção de registros processuais e outras táticas ilegais
– Ausência de julgamento de manifestantes condenados à morte em tribunais civis por crimes políticos perante júris

Foram aplicadas sentenças de morte em casos que envolvem acusações vagas, termos amplos e subjetivos que permitem a aplicação arbitrária da pena de morte por motivações políticas, tais como “corrupção na terra” e “inimizade contra Deus“. Além disso, várias dezenas de indivíduos foram acusados desses mesmos “crimes”, aumentando assim a possibilidade de execuções futuras.

Minorias visadas

No Irã, além das execuções com motivação política, centenas de indivíduos foram executados por supostos crimes não políticos, principalmente relacionados a drogas. Isso contraria o padrão internacional de que a pena de morte deve ser aplicada somente para os crimes mais graves, excluindo crimes relacionados a entorpecentes.

As execuções por questões de drogas afetaram de forma desproporcional pessoas marginalizadas e economicamente desfavorecidas, especialmente a minoria étnica balúchi, que representa 20% das execuções relatadas, apesar de compor apenas 5% da população total do Irã.

Até 2 de agosto de 2023, foram registradas pelo menos 423 execuções no Irã desde o início do ano, de acordo com o CHRI. Esses números indicam uma tendência de ultrapassar as 582 execuções do ano anterior. Dada a falta de transparência governamental, é provável que o número real de execuções seja maior do que o relatado.

Ghaemi destacou que essas execuções ilegais têm como objetivo suprimir a dissidência e incutir medo na população. Ele enfatizou a importância dos governos e organizações internacionais pressionarem o governo iraniano para pôr fim a essas execuções sancionadas pelo Estado.

Tags: