Êxodo afegão: mais de 400 mil retornam do Paquistão após repressão de Islamabad

Alegando combate ao terrorismo, Islamabad coordena agenda de remoção de estrangeiros ilegais no país

Mais de 400 mil afegãos retornaram ao país natal em meio à atual repressão a estrangeiros ilegais no Paquistão, conforme anunciado pelas autoridades paquistanesas nesta segunda-feira (20).

Zabihullah Mujahid, porta-voz do governo liderado pelo Taleban no Afeganistão, confirmou o número, destacando que a maioria optou pelas passagens de fronteira de Torkham e Spin Boldak para seu retorno. As informações são da rede ABC News.

Quando as autoridades paquistanesas intensificaram as medidas contra a residência irregular em setembro, aproximadamente 1,7 milhão de afegãos estavam vivendo por lá. A exigência era clara: todos sem a documentação adequada deveriam deixar o país até 31 de outubro, enfrentando o risco de prisão.

Como parte desta operação, os expatriados do país vizinho foram transferidos para centros de trânsito, marcando um ponto de inflexão nas políticas de imigração paquistanesas.

O portão Bab-e-Dosti, passagem de fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão localizada em Chaman (Foto: WikiCoomons)

Recentemente, Anwar ul-Haq Kakar, primeiro-ministro em exercício do Paquistão, disse que a decisão de seu governo de expulsar do país cidadãos afegãos em situação irregular é motivada pelo aumento dos episódios de terrorismo em território paquistanês nos últimos meses.

O expurgo não foi bem recebido pelo Taleban, que governa o Afeganistão desde agosto de 2021, quando ascendeu ao poder após a evacuação das forças ocidentais que ocupavam o país.

As autoridades paquistanesas, no entanto, asseguraram que os 1,4 milhões de afegãos registrados como refugiados não têm motivos para preocupação, pois a repressão visa exclusivamente aqueles sem a documentação necessária.

A migração de afegãos para o Paquistão pode ser atribuída a diversos fatores históricos e contemporâneos. Um dos principais motivos foi o conflito armado no Afeganistão, especialmente durante a invasão soviética na década de 1980 e os conflitos internos que ocorreram nos anos seguintes. Muitos afegãos também buscaram refúgio em território paquistanês para escapar da violência e da instabilidade em seu país após a tomada de poder pelo Taleban.

Protesto

Nesta segunda-feira, moradores de Chaman, na província de Baluquistão, perto da fronteira com o Afeganistão, bloquearam brevemente uma estrada importante que leva à fronteira, interrompendo o tráfego e a repatriação de alguns afegãos.

Os residentes protestam pedindo ao Paquistão que permita o uso contínuo de licenças especiais para atividades comerciais e visitas familiares à cidade fronteiriça de Spin Boldak, em solo afegão.

Desde 1º de novembro, a polícia paquistanesa verifica a documentação dos migrantes de porta em porta, afetando principalmente cidadãos afegãos, apesar da repressão se aplicar a todos os estrangeiros no país.

Retorno desgastante

Três organizações de ajuda humanitária, o Conselho Norueguês para Refugiados (NRC), o Conselho Dinamarquês de Refugiados (DRC) e o Comitê Internacional de Resgate (IRC), relatam que muitas pessoas que fugiram da repressão voltaram ao país natal em condições precárias, segundo a rede ABC News.

Essas agências descreveram as condições como “terríveis”, com muitos enfrentando viagens exaustivas que duram vários dias, sujeitos às intempéries e, frequentemente, sendo obrigados a abrir mão de seus bens em troca de transporte, conforme declarado em um comunicado conjunto das organizações.

O número de afegãos atravessando a fronteira de volta aumentou significativamente, atingindo de nove mil a dez mil por dia, em comparação com os cerca de 300 diários registrados anteriormente, de acordo com informações levantadas por equipes de trabalhadores humanitários.

Ao retornarem, eles enfrentam a falta de abrigo, e nesse cenário as agências humanitárias temem pela sobrevivência e reintegração em um país marcado por desastres naturais, décadas de conflitos, economia instável e milhões de deslocados internos.

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